Análise | Celebridades e Figuras Públicas Gênero e sexualidade

Dois pesos, duas medidas: a separação de casais famosos e o machismo estrutural

A separação recente de dois casais formados por celebridades brasileiras traz à tona o modo como o machismo se constitui de forma estrutural e se faz presente nos sentidos acionados pelos acontecimentos, com a diferenciação dos papéis sociais que homens e mulheres podem e devem ocupar na sociedade.

Os ex-casais Gusttavo & Andressa e Whindersson & Luisa. Fotos: reprodução / Instagram

No último mês, o anúncio da separação do casal Gusttavo Lima & Andressa Suita ocupou a cena pública. O comunicado foi recebido com surpresa: afinal, a relação era apresentada como “perfeita” ao público que consumia, por meio das redes sociais, não só a música produzida por Lima, como também o dia a dia da família.

A partilha da vida de celebridades em perfis públicos, bem como a reverberação de acontecimentos relacionados a essas figuras, alimenta o interesse do público e tem se constituído como uma tendência. O anúncio do fim do relacionamento através das redes e a repercussão entre público e imprensa se aproxima a outro caso, também ocorrido neste ano: o de Whindersson Nunes & Luisa Sonza. 

Os dois casais compartilham o status de celebridade e dividiam a rotina com seus seguidores: o casal se constituía quase que como uma “marca”. Assim, a união era, em certa medida, “monetizada” a partir de uma imagem pública construída ao longo do tempo. Essas celebridades possuem forte presença nas redes, com milhões de seguidores em suas contas.

Esses traços dão relevo à imbricação entre a vida pública e a vida privada e ao valor atribuído à visibilidade como caracterizantes na trajetória das celebridades. No entanto, é na repercussão na imagem dos envolvidos que os casos se distanciam, ao mesmo tempo em que evidenciam o machismo e o tratamento distinto e hierarquizante de gênero, valores que revelam sobre o contexto contemporâneo.

Em relação ao anúncio do término, Nunes e Sonza publicaram, em seus perfis, textos afirmando que era uma decisão de ambos. Ainda assim, a cantora foi alvo de críticas e ataques de haters, enquanto o humorista recebeu solidariedade dos seguidores.

Do outro lado, foi exposto o abandono por parte do cantor e a falta de responsabilidade afetiva: “foi um choque (…) eu fui acordada e comunicada que não dava mais pra gente continuar como casal”, afirmou a modelo em vídeo. Nesse caso, Lima recebeu mensagens de apoio que enalteceram a sua postura “nobre” em tomar a atitude de terminar o relacionamento.

Nos dois casos, foi levantada (por público e mídia) a hipótese de que uma traição teria levado ao fim das uniões.

A solidariedade chegou a Suita, que tem construído sua imagem na cena pública como uma “super mulher”, voltada a seu núcleo familiar e reforçada quando ela afirma que não teve chance de “salvar nosso casamento”. Esse é o questionamento do público sobre Lima: ter “colocado fim” a um ideal de família.

Tais padrões não se refletiam no outro casal. Luisa Sonza usa da sexualidade como ferramenta de performance e negou a vontade de engravidar, o que a distancia do papel social de mãe. O lançamento do clipe com o cantor Vitão, mais de um mês após o anúncio do término, gerou mais uma onda de críticas. O vídeo já possui 5,3 milhões de dislikes, sendo o segundo de maior rejeição de toda a plataforma. O que não se refletiu no seu paralelo masculino, já que o clipe lançado por Lima, no mesmo dia do anúncio do término, recebeu 979 mil likes e 79 mil dislikes.

A forma como essas separações afetaram os públicos e geraram engajamento demonstra como esses acontecimentos dizem sobre nossa sociedade: a maneira como o machismo se constitui estruturalmente e se faz presente nos sentidos acionados e nos modos de descrição, narrativização e reverberação dos acontecimentos. Ou seja, como os valores contemporâneos ainda encontram-se fortemente marcados pela diferenciação dos papéis socialmente atribuídos aos sujeitos a partir de seu gênero.

Dayana Barboza, doutoranda em Comunicação Social pela UFMG
Mariana Gonçalves, doutoranda em Comunicação Social pela UFMG



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