Análise | Celebridades e Figuras Públicas Gênero e sexualidade

Por que o namoro de Camila Pitanga com Beatriz Coelho viraliza?

O relacionamento de Camila Pitanga e Beatriz Coelho viralizou no início de novembro e gerou vários questionamentos. Indagada sobre sua orientação sexual, Camila afirmou que “amor é amor”, evidenciando de maneira pouco contundente tanto a homofobia como o machismo presentes na sociedade brasileira.

Camila Pitanga e Beatriz Coelho em première no Rio.

A atriz Camila Pitanga teve seu relacionamento com a artesã Beatriz Coelho divulgado e comentado de forma bastante polêmica no dia 11 de novembro de 2019. Segundo o jornalista Leo Dias, do Uol, o relacionamento já teria sido confirmado por parte da atriz, desde abril, mas não foi divulgado por ainda ser uma relação nova e em construção.

Posicionando-se em público pela primeira vez dentro do namoro, Camila justifica sua discrição dizendo: “Sempre tentei manter minha vida pessoal privada em todos os meus relacionamentos. Nesse não seria diferente […] Muita gente já me viu com a minha namorada e não ficaram surpresas com essa notícia porque nunca nos escondemos”. Camila foi casada com o diretor Claudio Amaral Peixoto por 10 anos, até 2011, e em 2018 teve duas experiências amorosas, com o músico Rafael Rocha e o ator Igor Angelkorte. Ao ser questionada sobre a sua orientação sexual diante do primeiro namoro com uma mulher, ela se posiciona dentro do amor: “Estamos em 2019, acho que com tantos avanços e conversas e informação, é impossível que alguém não entenda ou não respeite o fato que todo ser humano é livre para amar quem quiser. Amor é amor”.

Ao resumir o namoro em torno do amor e tomar como garantia a ideia de que “todo ser humano é livre para amar”, Camila perde a oportunidade de visibilizar tanto a homofobia presente no país, quanto o machismo que, além de deslegitimar o prazer e a autonomia das mulheres para tomarem decisões para si, gera diferentes intromissões e repressões nas suas vidas. A polêmica em torno do relacionamento com uma mulher revela uma exigência por parte da sociedade por explicações para cenários que se configuram de modo irregular e inconstante – o apaixonar-se –, assim como a cobrança por uma regularidade entre gênero e orientação sexual. Ou seja, além das objetificações que a mulher sofre ao assumir sua sexualidade e subverter sua posição de submissa ao homem, há um estranhamento quando seus interesses não obedecem às premissas da heteronormatividade.

Se a homossexualidade sofre tantas opressões na sociedade brasileira (segundo o Grupo Gay da Bahia, o Brasil registrou uma morte por homofobia a cada 23 horas até maio de 2019), a bissexualidade não teria mesmo espaço para existir dentro do amor. Ainda que não haja uma confirmação do rótulo de bissexual por parte da atriz, escolher se relacionar com homens e, agora, com uma mulher faz emergir a expectativa dos outros em estabilizar e homogeneizar a sua sexualidade.

No Twitter e Instagram, muitos fãs demonstraram aprovação, ainda que surpresos com a novidade. Como mulher negra e artista, Camila Pitanga assume uma atuação ativista nas redes sociais e acrescenta às discussões em torno da política brasileira, de produções culturais, de causas feministas e da comunidade negra. Nesse sentido, ainda que tenha sido branda com suas palavras na imprensa, sua voz ressoa e demanda por uma “liberdade para ser” dentro do conturbado contexto brasileiro.

Carolina Souza Louback, Mestranda em Comunicação Social pela UFMG e jornalista pela UFV.



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