A análise aborda dois eventos de grande repercussão na mídia: os assédios sexuais do produtor Harvey Weinstein e do ator Ed Westwick. As vítimas tiveram seus corpos objetificados como moeda de troca para conseguir o sucesso em suas profissões. Até quando o mercado cinematográfico lidará com estas atitudes como se fossem normais?
Em outubro deste ano, a internet foi bombardeada com denúncias sobre um poderoso produtor de Hollywood: Harvey Weinstein foi acusado de assediar sexualmente mais de 48 mulheres ao longo de sua carreira. As vítimas, em sua maioria atrizes e modelos hoje famosas, quando ainda estavam no início de suas carreiras, tiveram seus corpos objetificados como moeda de troca para conseguir o sucesso em suas profissões. Angelina Jolie, Lupita N’yongo, Gwyneth Paltrow e Julliane Moore foram algumas das vítimas do produtor. As primeiras denúncias se revelaram apenas a ponta de um iceberg, que aumentava de tamanho conforme mais vítimas davam seus depoimentos revelando os abusos cometidos por Weinstein. O produtor, no entanto, alegou que tudo não passou de invenção, e que nem ao menos se lembrava delas.
Em novembro, conhecido por sua atuação na série Gossip Girl, Ed Westwick também foi acusado de assédio sexual por três mulheres, tendo estuprado duas delas. Todas as vítimas possuem ligação com um dos amigos do ator teen, o produtor Kanye Harling. Uma das vítimas, Rachel Eck conta que Harling – seu ex-namorado na época – não só estava presente na noite em que foi abusada, como foi quem a convidou para ir ao hotel em que haveria o encontro. “No caminho, ele me disse que estava com o amigo dele, Ed Westwick”. Ela chegou ao Hotel Sunset Marquis por volta das 2h30 da manhã, e foi até um quarto com várias camas e viu que estavam apenas Harling e Westwick. “Westwick me pediu para convidar uma amiga para sair com nós três”, relembra, mas suas amigas já estavam dormindo porque era de madrugada. “Quando eu não consegui trazer nenhuma garota, ele se virou para mim”, conta. O ator negou todos os casos e, assim como Weinstein, disse não se lembrar das mulheres.
Não é incomum que produtores ofereçam mulheres para satisfazer os desejos de seus clientes, ou que façam propostas indecentes com a promessa de prestígio e sucesso na carreira. Atitudes como essas estão banalizadas, é considerado normal que mulheres entreguem seus corpos como troca de algum favor. A frequência e extensão dessas ocorrências indicam o quanto o machismo permanece vivo, e como certas posições de prestígio favorecem esse tipo de assédio. Os senhores feudais, na Idade Média, assumiam o “direito” do corpo das servas. Os “senhores” do cinema (e não apenas!) continuam a agir como se dotados de tal direito.
Não são apenas as mulheres que devem se revoltar contra tal tipo de situação, mas toda a sociedade. Incluindo os homens que já assumiram uma posição de igualdade e respeito entre os sexos. Tratar os corpos femininos como moeda de troca, e pretender exercer “direito” de negociação e uso de corpos é marca de uma sociedade doente, desprovida do sentido de dignidade de seus membros.
Laura Queiroga
Graduanda em Comunicação Social pela PUC-Minas