O escândalo de corrupção na FIFA: para onde vamos?
Sete dirigentes de futebol de diversos lugares do mundo são presos por acusações de casos de corrupção, incluindo o ex-presidente da CBF, José Maria Marin. Esse acontecimento nos impulsiona a pensar o futebol que vivemos hoje e para onde ele está caminhando, revelando uma falência das instituições futebolísticas. O acontecimento instaura um passado de grandes diferenças no tratamento do futebol e aponta para futuros possíveis, dentre os quais uma crise no esporte, mas que são carregados de intensa incerteza.
No dia 27 de maio de 2015, sete dirigentes da Fifa foram presos na Suíça após acusações de envolvimento em casos de corrupção. Entre os crimes cometidos incluem-se a compra de votos para a escolha da África do Sul como sede da Copa do Mundo em 2010 e para a eleição para presidente da Fifa em 2011, o superfaturamento da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) com uma empresa de material esportivo e corrupção na escolha das sedes das Copas do Mundo de 2018 e 2022, respectivamente na Rússia e no Qatar.
Nesse sentido, o escândalo de corrupção da FIFA, a maior instituição futebolística do mundo, cria uma descontinuidade na experiência do futebol, instaurando um passado em que o esporte era vivenciado de forma diferente e apontando futuros possíveis, como o empobrecimento do esporte em si e uma crise das instituições que o gerem.
O futebol, depois que se desenvolveu em larga escala e se expandiu pelo mundo, tornou-se um esporte institucionalizado e dependente da política. No entanto, até algum tempo atrás, ele era vivenciado e tratado a partir de outros objetivos e perspectivas. Inicialmente, era um esporte popular e de integração, em que a ligação dos jogadores com os times era mais intensa, e muitos eram torcedores dos times em que jogavam. Isso mostra um interesse no esporte, em entreter o público com partidas emocionantes, em jogar o futebol, que é tão importante na cultura brasileira.
O esporte, que já era profissionalizado, hoje permite que o jogador sobreviva dele, se dedicando inteiramente ao time. Porém, recentemente, percebe-se uma excessiva profissionalização de agentes externos, que gerenciam esses jogadores antes mesmo de eles formarem-se como tal. Esse processo, associado à mercantilização dos profissionais, afasta o futebol da ideia de um esporte popular e de integração. Em um processo de capitalização do esporte, os jogadores são tratados como mercadorias valiosas e, com a elevação do preço dos ingressos, os jogos ficam menos acessíveis às pessoas com menor poder aquisitivo. Por mais que os jogos sejam televisionados para o mundo todo, a experiência de ir ao estádio é diferente.
Todo esse cenário conturbado mostra o poder hermenêutico do acontecimento envolvendo a Fifa e outras instituições. Ele revelou problemas muitas vezes tratados em segundo plano ou mascarados pelo lugar do futebol na cultura brasileira e pelo amor dos brasileiros com o futebol.
No Brasil, o futebol é organizado a partir de acordos políticos complexos, em que os dirigentes preocupam-se muito mais com seus interesses pessoais e econômicos do que como crescimento e a evolução do esporte. Com um futebol defasado, tanto em nível gerencial quanto em nível tático, os clubes brasileiros e a CBF se posicionam em uma estrutura engessada e ultrapassada. A prisão do seu ex-presidente, José Maria Marin aponta para isso.
Nesse contexto de transformações, é preciso pensar o lugar para o qual o futebol está caminhando. Esse escândalo demonstra uma crise das instituições futebolísticas em nível nacional e mundial e reflete o futebol que vivemos hoje. Por outro lado, apesar desse futuro de crise, as pessoas continuam se envolvendo com o futebol, e de forma mais intensa, chegando, muitas vezes, a ultrapassar os limites morais e sociais. Além disso, apesar de jogos e campeonatos grandiosos e espetacularizados, as partidas ainda são emocionantes e comoventes. E então, para onde vamos?
Júlia Antoniazzi
Graduanda em Comunicação Social-UFMG
Bolsista de Iniciação Científica no Gris