Em poucas semanas, Doria apresentou o controverso projeto “Alimento para Todos” (que ficou famoso como “ração humana”), viu sua popularidade cair na cidade de São Paulo e despencar seu desempenho nas redes sociais. A candidatura para presidente em 2018 está naufragando: parece ter sido um passo maior do que a perna.
Entre uma viagem e outra por cidades brasileiras e estrangeiras, João Doria, em parceria com a Plataforma Sinergia (ligada à Igreja Católica), anunciou o lançamento de um “alimento completo” a ser distribuído em escolas e instituições do terceiro setor. Mal sabia ele naquele momento que a iniciativa teria que ser defendida por um cardeal, após o composto alimentar ganhar o apelido de “ração humana”.
Nem a “intervenção divina” adiantou: o “produto abençoado” – nas palavras do prefeito – virou uma maldição para sua imagem. Não bastassem os fatos sobre hábitos alimentares que dizem que o hábito de comer não se reduz a ingerir nutrientes e que a alimentação in natura sempre é mais recomendável; Doria e seus parceiros divulgaram informações imprecisas e contraditórias. Acabaram sendo desmentidos pelo Conselho Regional de Nutrição, pela NASA, pela ONU e até pela careta de um secretário da prefeitura de São Paulo que experimentou o “saboroso” alimento.
Geraldo Alckmin, seu antigo padrinho e agora concorrente na corrida presidencial, não perdeu a oportunidade de alfinetar: o governo do estado de São Paulo postou em seu Facebook simultaneamente à crise da ração uma peça promocional do restaurante Bom Prato. A oposição também se manifestou: a vereadora Sâmia Bomfim (PSOL) lembrou que a gestão Doria propôs a ação pouco depois de alegar que reduziu itens da merenda escolar para combater a obesidade.
Dois vídeos antigos viralizaram após o episódio (reforçando a máxima que o acontecimento “convoca um passado”). Em um deles, de 2007, Doria – apresentando o programa de TV O aprendiz – afirma que “gente humilde” não possui “hábito alimentar” e “tem que dizer graças a Deus” caso possa comer. No outro, de 1988, o humorista Chico Anysio ironiza outra ideia de Doria, então presidente da Embratur, de transformar a seca nordestina em roteiro turístico (e é curioso como o presidente de uma estatal no governo Sarney na década de 80 se apresentou na campanha de 2016 como “não-político”).
Parodiando análise anterior do Grislab, tudo que o prefeito toca tem virado anti-marketing. O feitiço virou contra o feiticeiro: ao que parece, João Doria perdeu popularidade em São Paulo, “derreteu” nas redes sociais e não tem o mesmo desempenho nas pesquisas para a próxima eleição. O ambicioso e prematuro presidenciável sente na boca o desagradável sabor que vários paulistanos tem sentido com seu mandato.
Gáudio Bassoli
Mestre pelo PPGCOM-UFMG
Paulo Basílio
Graduando em Publicidade pela PUC Minas