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A vitória de Biden, Kamala e da democracia

O texto analisa o resultado da disputa presidencial nos EUA, que consagrou a chapa democrata para a Casa Branca a partir de janeiro de 2021.

Foto: Jim Lo Scalzo / EFE

Os primeiros dias de novembro foram marcados pela expectativa em torno das eleições norte-americanas. Em uma disputa acirrada, Joe Biden venceu Donald Trump e será o 46º presidente do país. Os votos ainda estão sendo contados no complexo sistema eleitoral dos EUA, mas as projeções da imprensa declararam a vitória democrata no dia 7 de novembro. No discurso da vitória, Biden e a vice-presidenta eleita, Kamala Harris, prometeram reunificar o país.

Harris é a primeira mulher a ocupar o cargo de vice-presidente nos EUA: “Eu posso ser a primeira mulher neste cargo, mas não serei a última”, afirmou Kamala. Ela emocionou a plateia e o público ao falar de seu lugar como mulher, negra, filha de imigrantes, e lembrar a sua mãe Shyamala Gopalan Harris, que veio da Índia aos 19 anos e acreditava em uma “América em que um momento como este é possível”:

Então, estou pensando nela e em gerações de mulheres – mulheres negras, asiáticas, brancas, latinas ou indígenas através da história da nossa nação que pavimentaram o caminho para este momento. Mulheres que lutaram e sacrificaram tanto por igualdade, liberdade e justiça para todos, incluindo as mulheres negras, esquecidas vezes sem conta, mas que provam reiteradamente que são a espinha dorsal da nossa democracia. A todas as mulheres que trabalharam para garantir e proteger o direito ao voto por mais de um século; 100 anos atrás, com a 19a Emenda, 55 anos atrás, com a Lei dos Direitos ao Voto, e agora, em 2020, com uma nova geração de mulheres no nosso país que votam e continuam a lutar por seu direito fundamental de votar e de ser ouvidas. Nesta noite, eu reflito sobre a sua luta, a sua determinação e a força de sua visão […], eu sigo os passos delas.

O tom conciliatório marcou o discurso de Biden, que convocou democratas e republicanos a reunir forças para enfrentar graves problemas do país, sobretudo, a pandemia de covid-19 – que vem batendo recordes diários de contaminação. “É o momento de curar os Estados Unidos”, afirmou ele, que já é o presidente mais votado da história do país, com mais de 77 milhões de votos.

Biden e Kamala começaram a transição para o início de seu governo, em 20 de janeiro de 2021. A primeira medida anunciada foi uma força-tarefa composta por pesquisadores de diferentes universidades americanas, além de ex-membros da Organização Mundial de Saúde, para enfrentar a crise sanitária. Enquanto isso, o candidato derrotado, Donald Trump, recusa-se a reconhecer a vitória do adversário e continua a dizer que a disputa ainda não terminou.

A vitória democrata pode ser lida como uma ponta de esperança para barrar governos de extrema-direita pelo mundo que viam em Trump um líder a ser imitado – incluindo o presidente brasileiro, que também não parabenizou a chapa vencedora. Pode ser vista, assim, como uma vitória da democracia.

Paula Simões, professora do PPGCOM/UFMG. Pesquisadora do GRIS



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