Análise | Especial Questões socioambientais

Amizade queimada: negligência e ofensiva contra a Amazônia

Diante das queimadas na Amazônia e frente à reação do governo a tal acontecimento nos resta perguntar: ainda somos amigos da natureza?

Foto: ARQUIVO/GOV.BR

É indiscutível que a Amazônia sempre foi uma das maiores riquezas do Brasil e constantemente atrai olhares estrangeiros. Por isso, desde pequenos na escola, somos ensinados a respeito da importância ambiental e econômica que a floresta possui, e como sua fauna e flora são ricas em biodiversidade. Entretanto, parece que toda essa admiração perdeu seu espaço e deu lugar a um jogo de interesses privados e mesquinhos.

No último mês, a região novamente chamou a atenção do mundo, mas dessa vez de forma negativa. Isso porque, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – Inpe, em agosto os focos de incêndio na Amazônia aumentaram quase o triplo do que foi registrado no mesmo período do ano passado. É válido lembrar que estamos na época de seca (o que favorece o alastramento de incêndios). Todavia, as condições climáticas não são as únicas responsáveis pela tragédia em que nos encontramos. 

É claramente perceptível a interferência humana – sobretudo de investidores do agronegócio. Nessa indústria, é comum a realização de grandes desmatamentos seguidos de queimadas, a fim de preparar a terra para plantio e viabilizar o espaço para a criação de bovinos.Tal ação, por si só, não é um ato ilegal no Brasil, visto que é possível conseguir autorização governamental para praticar tais técnicas. Entretanto, grande parte dos incêndios que atingiram a Amazônia são  provenientes de focos não autorizados, e, apesar do acontecimento ter ganhado uma notoriedade mundial, a reação do governo frente ao caso nos faz refletir sobre as prioridades ambientais da atual gestão.

Em julho,  o presidente Jair Bolsonaro se envolveu em uma grande polêmica ao acusar o Inpe de falsificar dados a respeito do desmatamento na Amazônia Legal  – o que resultou na exoneração de Ricardo Galvão, que na época era o diretor da instituição.  Dias depois, as queimadas começaram a ser noticiadas com mais frequência pela grande mídia, principalmente após Rondônia ficar em chamas por mais de 16 dias e São Paulo ter seu céu escurecido às 15 horas da tarde. Entretanto, o governo demorou a se posicionar sobre essa questão e o presidente chegou a sugerir que os incêndios teriam sido provocados por ONGs e seriam para atingi-lo. 

Estamos vivenciando o que se assemelha ser uma guerra ideológica, entre aqueles que defendem um uso sustentável da floresta e os que apoiam a exploração desenfreada dos recursos naturais. Assim, o agronegócio brasileiro está cada vez  mais forte e ganha apoio constante no congresso – o que pode acarretar em uma piora significativa na qualidade de vida da população para benefícios de grandes investidores.

“O homem não é mais amigo da natureza”, declara Milton Santos. A cada dia que passa, essa afirmação parece ser mais real. 

Evelly Lopes, graduanda em Publicidade e Propaganda na UFMG & bolsista de Iniciação Científica pelo GrisLab



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