Análise | Celebridades e Figuras Públicas Especial

Ativismo ou oportunismo? A comoção das celebridades pela Amazônia

A crise gerada pelos incêndios na Amazônia, durante o mês de agosto, produziu uma afetação coletiva no universo das celebridades, tanto nacionais quanto internacionais, subsequentemente afetando seus públicos de diversas formas.

Foto: Reprodução/Travel+Leisure

O mês de agosto presenciou uma crise nacional que reverberou para além das fronteiras do Brasil: um número recorde de incêndios na floresta Amazônica deixou o mundo em alerta. A recém demissão do presidente do Inpe por causa da divulgação de relatórios sobre o tema (que revelou a proporção de um quadro extremamente problemático) gerou uma forte mobilização, convocando pronunciamentos de organizações, movimentos sociais, cientistas, líderes políticos e, também, celebridades.

Diversos famosos foram para as suas redes sociais digitais: de Madonna a Leonardo DiCaprio, passando por Gisele Bündchen e Bruna Marquezine. Suas manifestações abarcavam desde uma maior consciência ambiental por parte da raça humana até críticas diretas às políticas e aos discursos (anti)ambientais de Jair Bolsonaro. Além da corriqueira hashtag #PrayFor + (insira um substantivo aqui – neste caso, Amazônia), as postagens das celebridades publicizaram fotos de incêndios na floresta (algumas antigas), e alertavam que o “pulmão do planeta” estava em chamas.

No entanto, a comoção dos célebres, mesmo que possa ser considerada genuína e com boas intenções, também reforçou alguns aspectos contraditórios que circundam as vinculações de celebridades com causas sociais – afinal, a linha que difere o engajamento do oportunismo em busca de visibilidade e aceitação parece ser tênue. Prova disso é que nem tudo foi bem recebido pelos públicos: as fotos antigas divulgadas por figuras, como Cristiano Ronaldo, Ricky Martin e muitos outros foram apontadas como contribuições para desinformar a população, ao invés de alertar. E, além disto, outras performances relacionadas ao incêndio colaboraram para um viés negativo, que buscou descredibilizar o movimento das celebridades. 

O ator Noah Centineo pediu que seus seguidores visualizassem mentalmente por 20 segundos “nuvens chuvosas que molhariam os fogos da Amazônia” e foi acusado de oportunismo. A cantora Anitta (com imagem pública fragilizada desde sua crise com o público LGBT durante as Eleições 2018) foi cobrada a se posicionar e ficou irritada. Posteriormente, fez uma série de vídeos mostrando suas ações que contribuem para a preservação da floresta (ser vegana) e buscou  conscientizar seus seguidores sobre os danos do agronegócio. Envolveu-se ainda numa discussão com a ativista célebre Luisa Mell, acusando-a de politizar a temática (Mell atribuía os incêndios à política de Bolsonaro). Gisele Bündchen seguiu um raciocínio similar, respondendo a um seguidor que a situação não era “de direita ou esquerda” e foi bastante criticada.

Ao tratar da política de celebridades, Thrall et al. (2008) apontam que causas ambientais são uma tendência entre célebres e sugerem que esse fato esteja ligado a um maior distanciamento entre a causa defendida e o sujeito que o defende, o que fornece um “espaço seguro” de críticas enquanto mobilizam públicos e fomentam sua imagem. Já Wheeler (2012) diz que, para que esse fenômeno efetivamente afete uma coletividade e transforme políticas públicas, as celebridades devem demonstrar clareza de posições e sentidos já sedimentados. Ou seja, não devem privar de posicionarem-se contra agentes políticos problemáticos e carregarem a militância em suas ações para além de posts pontuais em redes sociais digitais. Diversas celebridades o fazem, notoriamente. Outras, nem tanto.

Referências

Thrall, A.T. et al. Star Power: Celebrity Advocacy and the Evolution of the Public Sphere. The International Journal of Press/Politics, n. 4, v. 13, 2008, pp. 362-385.

Wheeler, M. The Democratic Worth of Celebrity Politics in an Era of Late Modernity. The British Journal of Politics and International Relations, v. 14, 2012, pp. 407-422.

Pedro Paixão, graduando em Jornalismo pela UFMG e integrante do Gris

Fernanda Medeiros, doutoranda em Comunicação Social pela UFMG e integrante do Gris



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