Análise | Poder e Política

BH – Eleições 2016: Campanha morna e pulverizada

Com novas regras, processo eleitoral é sobreposto pelo impeachment de Dilma Rousseff e Olimpíadas Rio-2016.

Imagem: Nelson Jr. ASICS-TSE

Imagem: Nelson Jr. ASICS-TSE

Na última eleição municipal de Belo Horizonte, realizada em 2012, por muito pouco o candidato Patrus Ananias (PT) não foi ao segundo turno com o prefeito reeleito Márcio Lacerda (PSB).  Dentre várias razões, muitos atribuíram a derrota à tardia manifestação e entrada de Patrus no pleito, ocorrida em 3 de julho daquele ano, quase praticamente na então data limite estabelecida pelas regras eleitorais. Outros candidatos, ainda que não oficialmente, já estavam em plena temporada de campanha pré-eleitoral e a opinião pública já tinha uma ideia, minimamente razoável, dos nomes e eventuais propostas.

Na eleição deste ano, pelas novas regras eleitorais, o prazo limite para estas indicações será o dia 15 de agosto. Mas, até aqui, o xadrez político municipal se apresenta com, pelo menos, dez a doze candidaturas colocadas, incluindo, no momento, rupturas na base do próprio governo municipal. E hoje, se campanhas estão indefinidas a quase três meses das eleições (primeiro turno: 2 de outubro), que dirá, então, de propostas…

Ainda que esta pulverização de candidaturas possa estar se reconfigurando desde 20 de julho, com o início das convenções partidárias,  o debate, especialmente midiático, em torno das eleições municipais tem ficado praticamente sobreposto pela discussão e desdobramentos do impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

A partir de agosto, há que se considerar também o impacto midiático dos eventos olímpico e paralímpico no Rio de Janeiro em meio ao já curto tempo de campanha na TV, que só começa em  26 de agosto. Como noticiado no link acima, “com dois blocos no rádio e dois na televisão com 10 minutos cada, os partidos terão direito a 70 minutos diários em inserções, que serão distribuídos entre os candidatos a prefeito (60%) e vereadores (40%). Em 2016, essas inserções somente poderão ser de 30 ou 60 segundos cada uma.” Ou seja, a pulverização tende a ser não somente de candidaturas, mas também do tempo de exposição midiática das mesmas.

Mas a decisão do Supremo Tribunal Federal pela inconstitucionalidade das doações de empresas a partidos e candidatos pode frear um pouco tal fragmentação.  Com o financiamento eleitoral por pessoas jurídicas proibido pela lei, partidos e candidatos terão de buscar formas de financiamentos realizadas exclusivamente por doações de pessoas físicas e pelos recursos do Fundo Partidário – mesmo o crowdfunding está impedido.

E talvez aí, ante um cenário já desafiador para as finanças – tendo em vista os sucessivos escândalos que têm problematizado e criminalizado o caixa 2 de campanha -, as candidaturas poderão repensar estratégias de alianças.

Enfim,  como sinalizou o colunista político Orion Teixeira, no dia 6 de julho, todo o debate em torno da campanha eleitoral local, efetivamente, poderá ser empurrada para um segundo turno. O debate se tornará mais intenso e em um curto espaço de tempo. E, mais uma vez, ficam dadas as condições, sempre desfavoráveis (ou seriam deliberadamente desfavoráveis?) no Brasil, de que a discussão política se reduza, mais uma vez, ao uso intensivo do marketing político em um momento eleitoral – sendo este próprio prejudicado pelo tempo concentrado de desenvoltura.

 

Nísio Teixeira
Professor do Departamento de Comunicação Social da UFMG
Pesquisador do Gris/UFMG

Esta análise faz parte do cronograma oficial de análises para o mês de julho, definido em reunião do GrisLab.



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