Análise | Especial Poder e Política

Dossiê Planalto Central – A(s) carta(s) de Temer

Michel Temer resolveu colocar lenha na fogueira do cenário político nacional. No dia 07 de dezembro de 2015, circulou na mídia uma carta do vice à Presidenta. Ao contrário do que ele declarou, o escrito não tem cunho exclusivamente pessoal e se desdobra em várias mensagens: de um desabafo particular a recados (in)diretos a aliados, opositores e à população. Mas apesar das pretensões acontecimentais da carta, Temer não conseguiu nada além de alguns dias de holofotes no caso Impeachment.

Um dos memes que circularam pelas redes sociais sobre a carta de Temer.

Um dos memes que circularam pelas redes sociais sobre a carta de Temer.

No dia 07 de dezembro de 2015, se já não bastasse o bafafá político de todo o ano e especialmente deste final de 2015, Michel Temer resolveu colocar lenha na fogueira, porque não podia perder a oportunidade de sair da posição decorativa – como ele mesmo bem definiu – em que estava no cenário do governo e da crise política. Para isso, escolheu uma forma interessante: uma carta, supostamente direcionada à Presidenta Dilma, com o objetivo de expressar um “desabafo”.

Contudo, ao contrário do que Temer declarou, a carta não tem cunho exclusivamente pessoal e se desdobra em várias mensagens. Do âmbito particular, de fato, revela os sentimentos mais humanos de despeito, inveja, deslealdade, mimo, como um menino tirando satisfação com a mãe dos presentes e afagos que não recebeu. Nesse sentido, foi de fato um desabafo. Mas a carta também foi um recado a opositores do governo, pontuando os pecados da Presidenta em não fechar os olhos e não encher os bolsos de parlamentares. Da mesma forma, pedagogicamente, o escrito mostrou aos aliados o que precisam fazer para amenizar a crise: atender às vontades e gostos do PMDB. Ao povo brasileiro, Temer narrou uma história já conhecida, de políticos que só estão interessados em mandar e desmandar, em conseguir cargos para quem está de acordo com essa lógica predadora da democracia. Do ponto de vista cartográfico, o escrito ainda evidenciou os lugares e caminhos percorridos por Temer em cinco anos de mandato, que, como no caso de vários políticos brasileiros, se passarmos a peneira, não fica nada de fato relevante para o povo.

Apesar da carta com pretensões acontecimentais, Temer não conseguiu sair de sua posição decorativa por muito tempo, já que Eduardo Cunha, muito mais midiático e protagonista de um pretendido golpe, não cansa de gerar absurdos diários. Porém o vice-presidente conseguiu alimentar a mídia com uma novidade no caso do Impeachment, tendo alguns dias de atenção pública ao que fez ou deixou de fazer até o esperado encontro com a Presidenta, dois dias depois da carta, cujo retorno – “teremos uma relação extremamente profícua” (falas tanto de Temer quanto de Dilma) – não revelou nenhuma novidade: o governo terá de fazer/manter alguns acordos para continuar no poder.

Como bem Temer colocou na carta, “os escritos permanecem”; mas esqueceu que também reverberam e são ressignificados. Nas redes sociais, as respostas da população à carta se manifestaram na forma de breves bilhetes eletrônicos: memes, piadas e trocadilhos. Todo esse escárnio talvez revele um descaso diante do teor político do acontecimento; ou talvez, em contrapartida, seja um recado, a Temer e afins, de que esse tipo de carta não se tornará Magna. O apelo midiático de Cunha, Temer & Cia não terá força por mais tempo do que o povo estabelecer como limite entre o que é risível/ridículo e o que é real ameaça às conquistas da democracia.

 

Suzana Cunha Lopes
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFMG
Pesquisadora do Gris

 

Confira outras análises do “Dossiê Planalto Central”:

“Mulher: multidão*”: mulheres contra Cunha (Ana Karina Oliveira)

O último achaque de Cunha (?) (Gáudio Bassoli)

 

Esta análise compõe o “Dossiê Planalto Central” e faz parte do cronograma oficial de análises para o mês de dezembro, definido em reunião do Grislab.



Comentários

  1. Eduardo Henrique disse:

    Poderia dar enfoque nos seus pronunciamentos “categóricos” e a repercussão em diversos acontecimentos.

  2. Eduardo Henrique disse:

    Bom dia! Sugiro fazer uma Dossiê Planalto Central: As falácias de Dilma. O que acham?

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