A Copa de 2018 começou e o time do Brasil estreou emplacando um empate por 1 x 1 contra a Suiça. Nada de vitória ou comemorações. Algo histórico, já que o Brasil vencia as partidas de estreia no mundial desde 1978. Tido como um dos times favoritos, o primeiro jogo da seleção brasileira em uma copa é um acontecimento por si só. Mobiliza olhares, afeta a rotina, desperta sentimentos. Mas para além disso, o que esse acontecimento da estreia nos diz?
É impossível não reviver com a estreia na copa, o fatídico 7 x 1 de 2014. A torcida ainda sente o gosto daquela derrota em casa, logo na Copa realizada aqui. Um acontecimento esportivo da natureza de uma copa do mundo é sempre algo que nos faz olhar para os mundiais anteriores, para outros craques já idolatrados e para momentos marcantes do futebol brasileiro. Mas a experiência da copa de 2014, vivida em nosso país de maneira intensa, em meio a manifestações de “Não vai ter Copa” e foguetes celebrando os gols, deixou outras marcas em nossa sociedade. A população brasileira mudou bastante seu olhar sobre a tão celebrada Copa do Mundo.
Neste ano de 2018, pelo menos até o momento, temos menos ruas enfeitadas, menos foguetes e cornetas comemorando gols, menos gente comprando acessórios, bandeirinhas e camisas da seleção . E talvez até mesmo, menos gente se mobilizando em torno da Copa. O que estamos vivendo é uma Copa meio morna, meio parada, bem diferente da tradição que tínhamos até então.
É fato que a nossa rotina segue sendo afetada: muda-se o horário de trabalho, altera-se o funcionamento do comércio, as escolas se voltam para o assunto. Mas para o “país do futebol”, o empate logo na estreia deu exatamente o tom da torcida: nem lá, nem cá! Assistindo jogos, mas sem muita empolgação.
Há quem diga que todo início de Copa é devagar. Há quem diga que sim, estamos animados, temos eventos com shows para assistir aos jogos, telões em bares e praças etc. Mas ouvir o silêncio em vários bairros da cidade durante um jogo da seleção, sem foguetes, e escutar pessoas dizendo que “o mar não está para peixe” e que o brasileiro não tem muitos motivos para comemorar, nos dá um forte indício de que a coisa está mesmo diferente.
Apontar razões para isso? É sempre um risco. Mas a leitura que o cotidiano e o nosso olhar calcado no social nos permite é de que o futebol também está sendo afetado pela descrença no país, nas instituições, pela crise política e pelas tragédias que o Brasil vem passando desde o golpe de 2016.
Maíra Lobato
Mestra em Comunicação Social pela UFMG e pesquisadora do GrisLab