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EBC: efeitos do (des)governo


A Empresa Brasileira de Comunicação, tal como qualquer empresa pública ou órgão administrativo, está sofrendo grande intervenções de Bolsonaro e sua trupe. Desde palavras censuradas às possíveis fusões, o desmonte da comunicação pública vem se aprofundando.

A EBC foi criada em 2007, como uma iniciativa de promover a  comunicação pública através de uma empresa pública. A EBC é composta pela Agência Brasil, a TV Brasil, Rádio Nacional, Rádio MEC, NBR, A Voz do Brasil, entre outras rádios públicas regionais.

Grosso modo, uma empresa de comunicação pública tem liberdade para abordar vários assuntos, promover culturas nacionais e regionais, debater temas relevantes para a sociedade, bem como destacar a história e os costumes de um povo. Não é uma empresa estatal, tampouco governamental, e portanto não é braço de um determinado governo. A comunicação pública não deve funcionar como um canal de comunicação de campanha partidária, pois pretende ser de todos e para todos.

Tal definição parece ser pouco conhecida por Bolsonaro e sua equipe. No começo do mandato, o presidente nomeou três novos diretores: Roni Baksys Pinto, que vai exercer o cargo de diretor-geral da Empresa, Wagner de Sousa Bastos como diretor de Operações, Engenharia e Tecnologia; e Sirlei Batista será a nova diretora de Jornalismo.

O diretor geral é militar e já impôs algumas restrições de palavras para a empresa. Segundo servidores da instituição, palavras como “golpe”, “ditadura” e até matérias divulgando a ação do MP em barrar comemorações de 64 nos quartéis – sugeridas pelo próprio presidente – foram barradas. Próximo ao “aniversário do golpe”, a TV Brasil iria divulgar algumas reportagens sobre a ditadura que o Brasil viveu por duas décadas. Todas as vezes que as palavras “golpes” e “ditadura” apareciam, foram sistematicamente trocadas por “regime militar”, “comemoração de 31 de março de 1964” ou “revolução”.

Existe uma tentativa de acabar com a função pública da empresa. Situações que podem parecer banais são carregadas de poder simbólico, mostrando a intenção do governo para com a coisa pública e com os fatos históricos do nosso Brasil. Infelizmente, ao invés de traçarmos políticas que garantam o direito à comunicação plural e democrática (tão importante quanto o direito à educação e à saúde), repetimos os gritos “abaixo à Rede Globo!” de um lado e “fechem a EBC”, do outro. Enquanto a isso, a história é reescrita por aqueles que deveriam prestar contas por episódios assombrosos dela. Seguimos divididos. E conquistados.

Paulo Basílio
Mestrando em Comunicação pela PUC Minas




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