Análise | Poder e Política

Lava Jato: A construção de um “novo herói”

Sérgio Moro: O juiz popstar da Lava Jato

Um dos principais nomes das inúmeras fases da operação Lava Jato é o do juiz federal Sérgio Moro. Entre prisões e delações premiadas, o paranaense ganha cada vez mais fama na mídia e já é considerado por alguns como inspiração. 

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Juiz Sérgio Moro ganhou fama e prestígio à frente das investigações da operação Lava Jato.

Boa aparência, estatura acima da média, corpo em dia com a academia. Esse poderia ser o perfil do galã da nova novela das nove. Na realidade, trata-se das descrições em destaque na internet a respeito do juiz Sérgio Moro – o paranaense que ganhou fama em meio às incontáveis fases da operação Lava Jato.

No Facebook, várias páginas foram criadas em apoio ao juiz federal. Uma delas, com o nome de ‘Sérgio Fernando Moro’, já acumula mais de 20 mil curtidas, algo que pode até surpreender à primeira vista; juiz, em princípio, não é um cargo que convoca os holofotes da mídia, nem é particularmente alvo da apreciação pública.

Em jornais internacionais, como o espanhol El País, o magistrado já chegou a ser apelidado como  “homem-aranha”, em menção ao super herói dos quadrinhos. Além disso, no Brasil, durante as manifestações do dia 16 de agosto, entre cartazes de ‘Fora Dilma’, também podia-se ver dizeres como “Je suis Moro”.

Cantor Fagner escreveu canção em homenagem a Sérgio Moro.

Cantor Fagner escreveu canção em homenagem a Sérgio Moro.

Em pouco mais de um ano em destaque na mídia, Sérgio Moro também chegou a receber premiações, como aconteceu no início deste ano, quando o juiz foi eleito como “quem faz a diferença” pelo grupo Globo. Por fim, Moro como uma celebridade brasileira, não poderia ficar sem ganhar uma música em sua homenagem. E foi isso que Fagner fez. Em letra e melodia simples, o cantor de “Borbulhas de Amor” dedicou uma pequena canção ao paranaense, que foi vista por mais de 38 mil vezes no Youtube. Veja o vídeo aqui.

Sobre sua atuação profissional, Moro divide opiniões devido aos métodos usados durante investigações que apuram os desvios de verba na Petrobras. Por um lado, os críticos questionam o juiz  a respeito da sua forma de coagir os réus, levando-os à prisão antes de qualquer julgamento, “forçando-os”, com isto, a aceitarem acordos de delações premiadas. Também é ressaltado seu foco dirigido a indivíduos membros ou próximos ao Governo e ao PT, e a leniência com políticos do PSDB.  Entretanto, para a maior parte da população, o tratamento de Moro aos acusados de desvios é mais do que justo. E sua orientação para os próximos ao Governo e ao ex-presidente Lula cai como uma luva junto à sanha antipetista que anima parte da sociedade.

Tudo isso serve para mostrar como o acontecimento ‘operação Lava Jato’ acentuou as representações maniqueístas e influenciou no surgimento de sujeitos como Sérgio Moro, numa luta do bem contra o mal (em que ele faz o mocinho contra figuras do mal, encarnada pelos políticos e, de forma mais destacada, por José Dirceu).

Mas não se pode dizer que é o deslumbramento com a imagem do juiz federal seja um caso isolado. O modo como a figura de Sérgio Moro ganha visibilidade entre a sociedade é o mesmo que aconteceu com o agora ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa. Na época, Barbosa participava do julgamento dos réus do mensalão, e sua postura dura frente aos acusados, bem como suas frases de efeito, estimularam o imaginário social – o que lhe rendeu até indicações ao cargo de presidente da República.

Incensado pela mídia e população, não serão necessárias muitas mais fases da operação Lava Jato para colocar o jovem Moro no horizonte das eleições de 2018. Independente de uma análise de suas qualidades políticas, é no mínimo lamentável o clima emocional – e a facilidade – com que heróis e vilões são criados, elevados e destruídos, abdicando de leituras mais detalhadas e profundas. Aparências e performances contam muito entre nós.

 

Isabela Meireles – Pesquisadora do GRIS

Vera França  – Professora do Departamento de Comunicação Social da UFMG e coordenadora do GRIS. 

Leia outras análises do nosso Dossiê Lava Jato AQUI.



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