Análise | Poder e Política

O populismo autoritário de Bolsonaro

Em muitos dos inúmeros aparecimentos públicos do presidente Jair Bolsonaro, assim como nas atuais pesquisas de aprovação de seu governo, uma tendência de afirmação de um governo cada dia mais populista tem sido evidenciada.

O Brasil é um país que teve, historicamente, uma série de governos que flertaram com o populismo. Governos com líderes políticos carismáticos, que reúnem um grande número de seguidores, defensores de uma economia e política nacionalistas, e com discurso de união da nação. Tais governos vão desde o de Getúlio Vargas na década de 1930 ao de Lula no início dos anos 2000.

Outra característica importante do populismo é a sua associação aos governos de esquerda ou de centro-esquerda. Ou seja, são líderes políticos que têm uma maior aproximação das camadas mais populares e que governam em momentos históricos de transição social ou de modernização econômica.

Porém, recentemente surgiu no campo da Ciência Política o termo “populismo de direita”, que é utilizado quando políticos conservadores usam práticas populistas, como a de líderes defensores dos desejos e vontade do povo, o discurso antielite e contra os intelectuais, assim como, são contra os imigrantes, e se dizem defensores da pátria.

O populismo direita é um modelo político que tem se adaptado aos governos que estamos vivenciando no século XXI, governos que são encabeçados pelo presidente americano Donald Trump e de seus seguidores, como Jair Bolsonaro, figuras públicas que estão a cada dia rompendo com a heterogeneidade dos países que governam, e assumindo discursos antagônicos, antidemocráticos e autoritários. Mas, o que surpreende, é que mesmo com ações que se aproximam das ditaduras, governos como os mencionados têm conseguido cada vez mais apoiadores.

É o caso do governo do presidente Jair Bolsonaro que tem tido um crescimento positivo nas pesquisas de opinião pública. Na pesquisa realizada pelo Ibope entre os dias 17 e 20 de setembro com 2 mil pessoas em 127 municípios, 40% dos entrevistados consideram o governo de Bolsonaro ótimo ou bom, contra 29% que desaprovam. Na pesquisa anterior, os índices de aprovação eram de 29%, e a reprovação, de 38%.

Outro fato que tem apontado o crescimento dos seguidores de Bolsonaro está na sua popularidade em regiões do país que sempre foram redutos eleitorais de candidatos de esquerda, como é o caso do Nordeste – o presidente foi recebido recentemente no Piauí, Ceará e Bahia, estados com governadores do PT, com festa por uma multidão de apoiadores. Nas visitas aos estados nordestinos, Bolsonaro manteve o tom de deboche utilizando expressões preconceituosas e pejorativas para fazer referência ao povo, como por exemplo, chamou os governadores dos estados de “paraíba”, se referiu aos baianos como “preguiçosos” e disse que o nordestino é “indecente”.

Mesmo diante de tantas ofensas a aprovação de seu governo tem crescido na região. De acordo com as pesquisas de opinião realizadas a partir da pandemia do novo coronavírus, o crescimento positivo de Bolsonaro tem acontecido após o pagamento do auxílio emergencial de 600 reais a uma parcela da população. O que dá a entender é que o populismo do presidente brasileiro vem associado, pelo povo, a uma política de assistencialismo que, como sabemos, não foi se quer proposta por ele. Outro elemento determinante para a ascensão de Bolsonaro aos braços do povo está na promoção não de seu governo, mas dele enquanto pessoa, e pessoa preocupada com população mais pobre, que necessita do auxílio do governo para sobreviver.

Enfim, mesmo com um governo que a todo momento tem atitudes autoritárias, neste contexto populista que Bolsonaro está cada dia mais se aproximando, estaria surgindo um novo “pai dos pobres”?

Lívia Barroso, professora da Unifesspa e pesquisadora do Gris



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