Análise | Poder e Política

Posicionamentos no segundo turno: surpresas e omissões

Na etapa final da corrida presidencial, nomes ligados à política apoiaram Haddad e surpreenderam, enquanto Ciro Gomes não tomou lado e decepcionou a esquerda. A união – ou a falta desta – foi decisiva para o resultado da eleição.

Fonte: #Vempramassa

No segundo turno da eleição presidencial, posicionamentos inesperados por muitos somaram-se à campanha de Fernando Haddad, enquanto expectativas de apoio foram frustradas. Ambos os movimentos assinalaram o papel decisivo, mas que não foi adotado suficientemente, de uma união da esquerda e suas vertentes em torno do objetivo comum de combater o adversário – nesse caso, o candidato eleito Jair Bolsonaro, inscrito na extrema-direita do espectro político e reconhecido pela incitação ao discurso de ódio. No final das contas, a articulação em prol do candidato Haddad não foi suficiente diante do extremo sentimento antipetista fermentado  ao longo de anos pelas diversas instituições brasileiras.

Na véspera do segundo turno (27/10), o terceiro colocado da disputa presidencial, Ciro Gomes, afirmou publicamente que não se posicionaria. Logo após o resultado do primeiro turno, o ex-governador do Ceará afirmou que não votaria no candidato Jair Bolsonaro (PSL). Entretanto, o apoio explícito ao candidato do PT não se concretizou, tal como o esperado por Haddad e pela esquerda em geral.

Ciro recebeu críticas devido à omissão diante da acirrada disputa de votos e também pela falta de ajuda ao candidato petista durante todo o segundo turno. O pedetista viajou para a Europa após sua derrota e não se mobilizou de forma significativa para o fortalecimento da campanha de Haddad. Com isso, observou-se uma falta de união efetiva da esquerda brasileira no sentido de sensibilizar os eleitores e evitar a ascensão de Bolsonaro, cujo discurso ameaça minorias e direitos conquistados.

Enquanto o apoio esperado não se concretizou, outras figuras do ramo político surpreenderam ao declarar voto em Haddad. A surpresa se deu em razão do histórico dessas figuras em relação ao PT nos trâmites do poder judiciário. O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa afirmou no sábado (27/10) a sua decisão: “Pela primeira vez em 32 anos de exercício do direito de voto, um candidato me inspira medo. Por isso, votarei   em Fernando Haddad.”, declarou o relator do Mensalão. Seu posicionamento foi alvo de comentários racistas de um policial federal pró-Bolsonaro, que está sendo investigado.

Horas depois de Barbosa, o ex-procurador geral da república Rodrigo Janot também manifesta o voto em Haddad. “Já fui chamado de petista e anti-petista. Já fui psdebista e anti também. Houve muita especulação sobre meu interesse eleitoreiro na minha atuação profissional. Nada se comprovou. Agora, não posso deixar passar barato discurso de intolerância e etc. Por exclusão, voto em Haddad”, afirma em sua conta no Twitter.

Os apoios ao candidato do PT vindos da oposição demonstraram uma tentativa de superação do antipetismo frente ao caráter único das eleições presidenciais de 2018: a ascensão de um candidato com tendências fascistas e anti-democráticas. Com o resultado final da disputa, conclui-se que as divergências políticas pontualmente superadas por um motivo em comum foram insuficientes, bem como a articulação da esquerda (com exceção de Guilherme Boulos, do PSOL, nenhum outro candidato derrotado fez esforços significativos na campanha pró-Haddad). Existem inimigos e inimigos piores e, para combater os últimos, faz-se necessária a superação de concepções individuais em prol do coletivo.

Camila Meira

Estudante de Jornalismo da Universidade Federal de Minas Gerais



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