Análise | Poder e Política

O PSDB e a indignação seletiva contra a corrupção

Charge: Laerte Coutinho.

Dois acontecimentos recentes trouxeram novamente à cena pública brasileira casos de corrupção envolvendo o PSDB.

O ex-governador de Minas Gerais, Eduardo Azeredo, teve a prisão decretada no dia 22 de maio, depois de a 5ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Minas Gerais julgar o último recurso de 2ª instância da defesa do político tucano. Depois de ter sido considerado foragido pela Polícia Civil, Azeredo se entregou à polícia e está preso em uma sala especial em um quartel do Corpo de Bombeiros, em Belo Horizonte – onde inicia o cumprimento da pena de 20 anos e um mês de prisão pelos crimes de peculato e lavagem de dinheiro no chamado mensalão tucano.

A prisão do ex-governador aconteceu de forma discreta e, em grande medida, afastada da vigilância dos holofotes midiáticos. Poucas imagens do político se entregando circularam nas redes sociais digitais, e não houve panelaços nem fogos de artifício para celebrar o que poderia ser visto como mais um capítulo da novela diária da luta contra a corrupção em nosso país.

O segundo acontecimento diz respeito à prisão e à posterior soltura de Paulo Vieira de Souza, ex-diretor da estatal paulista Dersa, depois de permanecer preso por 35 dias. Paulo Preto, como é conhecido, é acusado de desviar R$7,7 milhões da obra do Rodoanel, em São Paulo, durante a gestão do governador tucano José Serra (2007-2010), além de responder à denúncia de contas na Suíça em seu nome que totalizam R$ 113 milhões não declarados à Receita Federal no Brasil [1]. No dia 15 de maio, a justiça de São Paulo negou um novo pedido de prisão do suspeito de ser o operador de propinas do PSDB paulista.

Esse acontecimento, assim como a prisão de Azeredo, não acarretou grandes reverberações no cenário de visibilidade. Não houve nem comemorações quando da prisão de Paulo Preto tampouco protestos contra a sua soltura – o que poderia representar um retrocesso na referida luta diária contra a corrupção no sistema político nacional.

Trata-se de acontecimentos distintos, envolvendo figuras em diferentes posições em nossa sociedade, mas que nos convocam a refletir sobre o que constitui objeto de nossa indignação moral – como busca discutir Hans Joas em A sacralidade da pessoa: nova genealogia dos direitos humanos. A corrupção é, certamente, um objeto de indignação na sociedade brasileira, e a luta contra ela se converteu em bandeira em inúmeros protestos recentes – incluindo os que culminaram no impeachment da presidenta Dilma Rousseff e, mais recentemente, na prisão do ex-presidente Lula.

Entretanto, o que os acontecimentos envolvendo Azeredo e Paulo Preto revelam é o quanto essa indignação contra a corrupção é seletiva: depende de partidos e de pessoas que a personificam. As denúncias e as investigações em torno de casos de corrupção no PT acabaram por conformar um antipetismo raivoso que se manifesta de forma bastante contundente no cenário de polarização que marca a sociedade brasileira contemporânea. Enquanto isso, ocorrências que apontam para a corrupção no PSDB são invisibilizadas e não suscitam a mesma indignação. Não cabe aqui buscar apontar causas simplistas para essa indignação seletiva, mas reconhecer que ela existe e se manifesta a partir de um viés social e classista.

Paula Guimarães Simões
Professora de Comunicação Social pela UFMG e coordenadora do Gris



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