Com o novo coronavírus ganha protagonismo um novo formato para as apresentações artísticas. As lives ganharam atenção do público que com isolamento social não podem ir a shows. Mas o que esse fenômeno nos diz sobre o universo da arte e da cultura neste momento tão difícil para o mundo todo?
Espetáculos cancelados, agendas desmarcadas, shows, que contrariando a máxima, tiveram que parar. A pandemia do novo coronavírus, que atinge milhares de pessoas em todos os continentes, colocou as pessoas em isolamento social e com isso artistas e músicos suspenderam suas apresentações. Pessoas que vivem da arte e da cultura ficaram sem renda e sem possibilidades profissionais. Uma situação desafiadora.
Além das dificuldades colocadas para esses profissionais, a diversão e o entretenimento da população também se tornaram escassos. No isolamento social, como se divertir? Como passar o tempo? Como ter momentos de entretenimento e descanso? A impossibilidade de contato presencial com a arte, a cultura e a música acendeu um holofote sobre a importância disso para a sociedade.
Parece que, de repente, todo mundo passou a entender de verdade a importância da música, da arte e da cultura. E nesse contexto, motivados pelo isolamento, surgiram diversas iniciativas como festivais de música, de contação de histórias e apresentações de artistas nas redes sociais por meio das lives (transmissões ao vivo).
A capacidade de adaptação do ser humano é impressionante. E essas apresentações nas redes sociais se tornaram uma importante forma de entretenimento na quarentena. Foram centenas de apresentações de artistas independentes e de artistas do mainstream pelo mundo todo. A live dos sertanejos Jorge e Mateus teve mais de 3 milhões de acessos e gerou ainda uma polêmica sobre a maneira como foi produzida.
A mudança no cotidiano das pessoas e o formato dessas apresentações trazem uma nova maneira de consumir arte e cultura. Pessoas combinam de se encontrar nas lives da internet, assistem juntas por videochamadas, interagem mais com os artistas mandando comentários e emojis durante as apresentações. Os artistas cometem gafes que não cometeriam nas apresentações presenciais. Tem artista que bebe demais, outros não contém as lágrimas e choram, outros fazem comentários e confissões inesperadas. Não tem mais palco, camarim, e a sensação de distanciamento do artista é menor; afinal ele está na sua casa e o show tem que continuar.
Fato é que nem nós, nem os artistas seremos os mesmos após o coronavírus. Após o fim do isolamento social saberemos quais as reais consequências desse isolamento todo. Mas ficam as perguntas: será que essa forma de levar e consumir arte por meio de lives não se tornará de fato uma opção definitiva? Será que quando tudo isso passar, as lives terão conquistado a preferência do público?
Maíra Lobato, Mestra em Comunicação Social pela UFMG