Recentemente, a boataria se espalhou na internet em torno da suposta proibição da execução da música Então é Natal, interpretada pela cantora Simone, versão para o célebre hino pacifista Happy Xmas (war is over), de John Lennon, cuja execução, aliás, inundava os anos 1980 nas FMs de Belo Horizonte, sendo às vezes acompanhada por uma inusitada tradução simultânea do locutor. Um portal de notícias da Paraíba chegou a consultar o STF e STJ sobre o caso, que negaram tal proibição. A matéria também conversou com assessorias dos shoppings de João Pessoa, “mas como se esperava os estabelecimentos também não foram notificados: ‘não recebemos informação alguma sobre essa ação, e também não vejo motivo para proibirem uma música que só toca uma vez por ano‘, declarou a assessora de comunicação do Shopping Tambiá”.
Com todas as críticas que se pode fazer à Simone, seu disco reunindo standards da música natalina lançado em 1995, apenas reocupou uma faixa esquecida pela indústria fonográfica brasileira. Até hoje são raros os discos que se ocupam de lançar canções inéditas voltadas para esse período (uma exceção pouco mais recente, de 2006, foi o álbum Um Natal de samba, reunindo Almir Guineto, Zeca Pagodinho, João Nogueira, D. Ivone Lara e outros). Talvez mais um sinal da apregoada crise da indústria fonográfica brasileira, mas curioso perceber como de algumas décadas para cá, não se percebe mais tantas produções natalinas. Assim como no período dedicado às festas juninas, havia todo um processo de produção voltado para o repertório específico a essas épocas. Em comum, ainda, entre os dois repertórios, um motivo de saudade: ainda que “antigas”, essas canções, já naquela época, cantavam muitas vezes a saudade e a reminiscência, e ouvi-las hoje é um exemplo da canção como “cápsulas da memória”, como sugere a professora Heloísa Valente, de tempos idos e passados.
Um primeiro registro já se fez presente um século atrás, em uma composição explicitamente dedicada ao período: Natal das crianças pobres, dobrado gravado em 1913 pela Banda do 10o Regimento da Infantaria para uma composição de Eduardo F. Martins. Desde o princípio, portanto, a temática da infância associada ao Natal parece reforçar esse aspecto de tempo sem retorno, um passado que se foi, cujo discurso, normalmente é reforçado pelo mote musical associado ao acalanto ou à valsa. Em outro conjunto de canções, há aquelas de caráter mais descritivo, que detalham aspectos da celebração. Em menor quantidade, outras canções fazem uso do Natal para falar de desalentos ou outro tipo de afeto, o amoroso e, em ainda menor grau, fazer algum tipo de chiste com o período – e aí, não por acaso, ao invés de valsas, acalantos ou samba-ranchos, teremos um pouco mais de marchinhas. Sem nenhuma pretensão de fixar categorias que no fundo são intercambiáveis, dividimos aqui nossas impressões das canções natalinas em nostalgia, descrição, relacionamento e desalento.
Nostalgia
Neste primeiro caso, percebe-se a saudade nas valsas Sinos de Natal (de Erotildes de Campos,1925), gravada por Pedro (irmão de Vicente) Celestino: Saudades de outrora /Que eu já esquecia /Que alegres crianças/Sonhando esperanças /Quanta alegria /No trono de Deus/Há tantas doçuras /Imensas ternuras /Que vêm lá do céu; Meu Natal, por Francisco Alves (dele e Ary Barroso, 1934): Nessa noite em criança/Sempre tinha a esperança /De um presente de valor/ Colocava na janela / Meu sapato de fivela /Pensando em nosso Senhor; ou outra cantada por Alves e Trio de Ouro; Natal (Herivelto Martins e Rogério Nascimento, 1945): Dorme, dorme filhinho / meu anjinho inocente /Natal chegou, meu santinho/a mamãezinha está contente. Ou ainda nas valsas gravadas em 1954 por Roberto Paiva, como Boas festas (Rui de Almeida e Guido Medina) e Dezembro (Amil e Gaó, 1954). Esta traz, por exemplo, os seguintes versos: Dezembro, mês de sonhos e poesias / Tudo era belo e encantador na vida /Natal, presépios, noites de alegria / Da minha infância linda e tão querida/Ó tempo vem por hoje dizimar / Eu punha atrás da porta os sapatinhos/E papai Noel me dava brinquedinhos / Nas noites estreladas de Natal/Dentre os presentes todos que ganhei / Ganhei também um lindo palhacinho/De roupas bonitinhas / Que comigo sempre conservei /Nunca está triste/Invejo-lhe a maneira / Traz nos seus lábios um mordaz sorriso.
Entre outros exemplos, teríamos ainda Jerusalém, cantada por Zilá Fonseca (Castro Perret e Jane, 1953): Noite feliz de Natal que nos põe alegria/Dentro da alma cansada na vida vazia / Noite de amor que nos traz novamente a lembrança/ Uma janela, um sapato, um cismar de criança; Papai Noel, por Carlos Galhardo (Ivo Santos e Raul Pompéia, 1956): Papai Noel / Que saudade que me vem /Já escuto lá longe o badalar/Dos sininhos de Belém /Papai Noel /O meu tempo já passou /Mas na noite tão alegre de Natal /Bem feliz eu sou/Eu também fui pequenino, pequenino/Mas depois eu fui crescendo, fui crescendo/E as minhas ilusões quando menino/Foram desaparecendo/E a vida foi seguindo para frente/Com saudades sou feliz hoje também /Porque já sou papai Noel e Papai Noel esqueceu por João Dias e Ângela Maria (David Nesser e Herivelto Martins, 1956): Meu sapato no sereno /Ficava a noite inteirinha /Na janela do meu quarto/Quando eu era criancinha /E dormindo meio acordado /Eu esperava ela vir/Trazendo um brinquedo novo /Papai Noel era você, mamãezinha.
Curioso perceber que essa lembrança forte da infância, associada à figura materna, nas noites de Natal, chegou a um período onde este tipo de gravação já começa a escassear no Brasil, os anos 1970, no rock-soul Hoje é Natal, de Cassiano, (dele, 1976), que, em que pese toda uma referência europeia (“lareiras”, “cisnes”), no final, tudo é um grito de saudade da mãe: Hoje é Natal de estrelas no céu / Hoje é Natal, Papai Noel /Deixou pra você os sinos do amor /E em meio às flores na sala, no bar /Lareira e as crianças a brincar/E no jardim o nosso cão a rosnar /Nossos cisnes enfeitam o pomar… Mamãe…
Descrição
Ainda sob a égide de valsas e acalantos, mas também com um número maior de ocorrências de marchinhas, temos canções que descrevem tanto a tradicional versão cristã da história do nascimento de Cristo ou como essa festa se processa em locais diversos, na cidade ou no campo, como em Natal do sertão, por Capitão Furtado e Tia Chiquinha (Villa Lobos e O. F. Pessoa, 1936): Meia noite o galo canta / Todo mundo se alevanta / Alegremente dobra o sino/Toda gente vai para a igreja /E a terra toda festeja /O nascer do bom menino/Toda gente tá contente /No terreiro o violeiro cantarola uma suave viola ou ainda Natal dos caboclos por Quarteto Tupã e Paraguassú (dele e Ariovaldo Pires, 1938): Noite de alegria, noite de amor / Nasce nesse dia Cristo Redentor /Como é divinal lá no meu sertão / Ao chegar Natal quanta tradição /Toca alegre o sino na igreja da Serra /É o senhor menino que desceu a Terra. Cartão de Natal , por Isis de Oliveira e Luiz Gonzaga (dele e Zé Dantas, 1954): Boas-festas / Feliz Ano Novo / Ouvindo os sinos de Deus /Repicando na matriz/Para você e os seus / Peço um Natal bem feliz. Salve Papai Noel um dobrado pela Bandinha do Altamiro Carrilho e Carequinha (dele e Mirabeau, ano indefinido): Salve salve Papai Noel, com alegria vamos todos festejar/Salve salve papai noel, meu sapatinho na janela vou botar/Salve salve Papai Noel, com alegria vamos todos festejar/Salve salve papai noel, meu sapatinho na janela vou botar.
Como visto, a própria natureza (o galo, as estrelas, a luz), além dos pequenos centros urbanos, pontuados especialmente pelos sinos, marcam a influência cristã e se transformam para anunciar a vinda de Jesus, aspecto reforçado ainda em outras canções de outrora, como nada menos que três canções denominadas Sinos de Natal. A primeira, cantada por Carlos Galhardo (Sanches de Andrade, 1941): Construí uma casinha/Lá no meio do caminho/Que foi feita de papel (que foi feita de papel)/Vou receber este ano/Com prazer uma visita do Papai Noel/(do Papai Noel); a outra, por Francisco Alves (Victor Simon e Wilson Roberto, 1950): Numa simples manjedoura/Num presépio de luz/Veio ao mundo um menino/O menino Jesus /Vinte e cinco de dezembro /É o dia de Natal /Luz no céu, paz na Terra, Glória universal!. A terceira, por Aurora Miranda (André Filho e Orestes Barbosa, 1934): Ôôôôô /O galo já cantou /E o Natal anunciou. Além destas, temos ainda Natal Divino (Milton Amaral, 1935): Natal, Natal / a lua cor de ouro emite a luz /vê que a humanidade está risonha/festejando o divino aniversário de Jesus.
Temos ainda vários exemplos, como Chegou Papai Noel, por João Petra de Barros (Kid Pepe e Roberto Martins, 1934): Chegou Papai Noel / Faz anos que Jesus nasceu /O galo cantou no terreiro/Uma estrela lá no céu apareceu; Cantiga de Natal, por Elizeth Cardoso (Lina Pesce, circa 1950): Uma noite no oriente / Uma estrela apareceu /Anunciando à toda gente / A mensagem lá do céu / Meu Jesus /Jesus menino / Para o nosso bem nasceu/ Trouxe paz, trouxe alegria /Quanto amor ofereceu; Natal das crianças Blecaute, (dele, 1955): Natal, Natal das crianças / Natal da noite de luz /Natal da estrela guia/Natal do menino Jesus; Noite de Natal, por Alvarenga e Ranchinho (de Murilo Alvarenga e Newton Mendonça, 1941): É noite de Natal / A lua no céu anuncia /Reina paz na terra /Nessa noite de alegria/É noite de Natal; Prece de Natal por Leny Eversong, com Aloísio, Seu Conjunto e Coro (José Saccomani, Lino Tedesco, Walter Melo 1956): Lindas estrelas nascem no céu /Anunciando que o Natal chegou/Cubra-se o mal com um véu /Façamos preces ao nosso senhor; Valsa de Natal por Orlando Silva (Hilton Gomes e Sivan, 1953): Preces falando de amor neste dia de paz /Sinos vibrando e rezando na mesma oração/Benção de nosso Senhor espalhando clarões/E todos cantam a mesma canção/Natal ao meu Senhor e Presente de Natal Zelinha do Amaral (Alvarenga e Ranchinho, 1936): Reina paz na Terra / A lua no céu anuncia /Que vai chegar o Papai Noel/Trazendo pra nós alegria / Que belo bailinho no céu /As estrelinhas luzentes/Parece que estão dizendo /Eu também quero um presente. Presente que o próprio Brasil ganha também: em Sonhos de Natal, pelo pintor-cantor Gastão Formenti (Henrique Vogeler, J. Menra e Lamartine Babo, 1929), um jogo de palavras entre a festividade cristã e a capital potiguar: Nesta noite o bom velhinho/Ao Brasil dera afinal/Lá do fundo do saquinho/A cidade de Natal
Nessa toada descritiva, é nos anos 1950 que surgem as clássicas versões em português para standards natalinos estrangeiros como Jingle Bells por João Dias (James Pierpoint, na famosa versão de Evaldo Rui, 1951): Hoje a noite é bela / Juntos eu e ela /Vamos à capela /Felizes a cantar/Ao soar o sino /Sino pequenino / Vai o Deus menino /Nos abençoar, versão também gravada como Sinos de Belém por Sônia Delfino e Club do Guri. Ou as versões para O Silent Night (Franz Gruber) como Noite de Natal (Noite Feliz), por Dalva de Oliveira (versão de Mário Rossi, 1952): Noite feliz, noite lustral / É Natal, é Natal / Em Belém uma estrela irradia /A mensagem que a todos conduz /Filho da Virgem Maria /Nasce o Menino Jesus; ou Noite de luz,, Zilá Fonseca (Ozvaldo Moles, 1953): Noite de luz / Noite sem paz /Nasce Jesus /Pra nos salvar /E as estrelas sentiram o amor; e ainda Noite Feliz, pelo Duo Moreno (versão de Arlindo Pinto e Mário Zan, 1952): Noite feliz /O céu também diz /Dobra o sino /Num som divino…
Ainda nessa época, os traumas da II Guerra e da iminente Guerra Fria também se fazem presentes também nas letras natalinas, como em Paz no sapato do mundo, por Castro Barbosa (dele, 1949): Meu bom Papai Noel / Que coração tão profundo /Pede a Deus a paz do céu/Para o sapato do mundo /Meu bom Papai Noel /Que coração tão profundo/Pede a Deus a paz do céu /Para o sapato do mundo; ou ainda Canção de Natal do Brasil Francisco Alves (dele, David Nasser e Felisberto Martins, 1951): Varrei o ódio da guerra / Protegei o bem contra o mal /Abençoai nossa terra, Senhor /Nesta noite de Natal
Contraponto recente, no citado álbum de 2006, em Momentos de Paz Luiz Grande (dele, Barbeirinho e Marcos Diniz) já descreve um outro tipo de festa natalina: Boas-festas compadre /Já vou me mandar /Hoje é noite de Natal /Eu só vou tomar uma / De maneira alguma /Não posso ficar /Minha nega já está /Com a caxanga arrumada /Não falta mais nada /Vou chegar pra lá /Encontrar os parentes/Amigos da gente /Pra comemorar. Sim, o interlúdio amoroso também vai pegar carona nas letras natalinas, como nos exemplos a seguir.
Relacionamento
A pessoa amada como presente de Natal obtido, desejado ou perdido também pontua parte do cancioneiro natalino, como a divertida marchinha Dia de Natal por Carmen Miranda (Hervê Cordovil, 1935) em que o melhor presente, além da pessoa amada, é fazer chegar logo o Carnaval para a farra: Hoje é dia de Papai Noel / Hoje é dia de Natal / Vou pedir ao meu Papai Noel pra fazer / Chegar depressa o Carnaval / Eu este ano vou pedir a ele /E quero ver se ele consente / Vou pedir pra nunca mais eu perder /Você que foi o meu melhor presente ou Noite de Natal por Orlando Silva (Maugeri Neto e Maugeri Sobrinho, 1952): Noite Feliz /Noite de Natal /Noite tão feliz /Fico a recordar meu lindo sonho de amor /Juntos na capela rezando perto dela /Eu pedi a graça do Senhor /Num prolongado beijo /As nossas vidas se encontraram ou mesmo no recente Presente de Natal do Fundo de Quintal (Roque Ferreira, 2006): Eu gosto de namorar /No pé da ladeira /Debaixo do pé de araçá /Ao pé da fogueira/ Amor ardente é o desejo /Quando vem pra pegar /Toca na boca da gente /Um gosto bom de amar /É bom provar do seu mel /Seu beijo fatal /Abre a roda que sou eu /Sou eu o seu presente de Natal.
Mas pode-se tentar também pedir pra Papai Noel o amado/a, como em Se Papai Noel quisesse, por Sílvio Caldas (Cristóvão Alencar e Hervê Cordovil, 1936): Se Papai Noel quisesse/Eu seria tão feliz /Pois eu lhe pedia que me desse/A mulher que não me quis ou em Eu sou pobre, pobre, por Aurora Miranda (André filho e Orestes Barbosa, 1934): Papai Noel, tenha pena de mim / Meu sapatinho furou /Não posso mais viver assim /Não tenho amor /Não tenho nada /Sou pobrezinho /Papai Noel, seja meu camarada /Eu sou pobre, pobre pobre de Marais deci /Vou te dar meu endereço pra com mais facilidade você me encontrar /Moro na rua da Saudade, longe da felicidade /Será fácil me achar.
Nesse aspecto, um contraponto malicioso se ouve em Listinha de Natal (Indía e Jorge Henrique, 1956), no qual Virgínia Lane traz um vocal malicioso, cheio de más intenções para o bom velhinho: Papai Noel Eu quero um casaquinho de arminho /Sempre fui pra você, meu velhinho / O que de mais honesto se vê /Papai Noel /Eu quero um Cadillac azulzinho/ Diamantes também /E prometo que em troca lhe darei um beijinho /Quanto tempo eu perdi/Quantos brotos eu deixei de namorar/Ano que vem serei igual /Se atender minha listinha de Natal/Papai Noel /Eu quero apartamento e joias também/Talõezinhos de cheque/ Prometo ser sua só e de mais ninguém Papai Noel Eu quero apartamento e joias também/ Talõezinhos de cheque /Prometo ser sua só e demais ninguém/ Ser sua e de mais ninguém.
Desalento
Mas nem tudo é alegria no Natal. Como resume Almir Guineto em Meu Natal (dele, Gilson Souza, Mi Barros, 2006): Pra uns o Natal é feliz / Pra outros é sabor de fel /Vivi o Natal que não quis/Tão cruel … Não ouse dizer pras crianças / Que Papai Noel não existe /Pra ter esperança /Não ser triste /É Natal / É Jesus /Divinal que conduz. Ou seja,nem todos podem ter tudo o que querem, como ainda em Quando chega o Natal Neide Fraga (de Sereno, 1950): Meu sapatinho é tão velho / Que eu tenho vergonha de pôr no fogão /Quando o Natal vem chegando /Eu fico pensando no Papai Noel /Quantos brinquedos bonitos /Soldados de chumbo, trenzinhos de apito /Mas nada disso eu queria /Se Papai Noel me pudesse atender /Era trazer alegria e levar a tristeza/Do meu padecer. Ou mais criticamente ainda no cantar de Ângela Maria em Outros Natais (Cláudio Luiz, 1956): Vocês que moram em palácios /E dormem em colchão de mola/Que perdem na mesa de jogo /Bem mais do que dão de esmola/No dia em que os sinos cantarem /Trazendo um Natal a mais/Procurem lembrar-se que existem outros natais/ Natal das crianças doentes/Das nossas favelas/Anjinhos da fome que a idade se conta nos dedos/Que pedem a Papai Noel /Que passe também perto delas /Trazendo ao menos remédios/ Em vez de brinquedos /Natal das crianças que dormem na dura calçada/Debaixo do teto opulento de nossas marquises /Natal sem castanha, sem bolo, sem cobre, sem nada/Natal das crianças que morrem pra serem felizes.
Uma felicidade falsificada pelo consumismo – agregada a um casamento frustrado -está também na crítica Sapatos na janela, por Emílio Santiago (Claúdio Jorge, 2006): Acho que esse amor não tem mais jeito /O vazio em nosso peito /Tá difícil de aturar/Cenas desse nosso casamento/Desencontro, sofrimento /Veja só os nossos filhos vão chorar/ É melhor partir pra decisão/Libertar essa paixão /E tentar em outro porto ser feliz /Já está chegando o fim do ano /Novos ares, novos planos/De plantar nova raiz /Procurar a paz pela cidade /Enfrentar a realidade/É o que o coração nos diz /Mas na rua vejo a propaganda /É papai Noel chegando/Com presentes preu comprar /Na TV nos jogam nessa trilha /Um Natal sempre em família /Fora disso não é fácil suportar
Canção-síntese nesse aspecto esteja talvez mesmo em Boas festas, famosa na voz de Carlos Galhardo, (Assis Valente, 1933). Suicida e solitário, o compositor resume numa letra mordaz a morte do Papai Noel e da própria felicidade típicas do período, camuflada por uma marchinha que, em contraponto, traz uma melodia alegre e cadencial: Anoiteceu, o sino gemeu/e a gente ficou feliz a rezar/Papai Noel, vê se você tem/A felicidade pra você me dar/Eu pensei que todo mundo/Fosse filho de Papai Noel/E assim felicidade/Eu pensei que fosse uma/Brincadeira de papel/Já faz tempo que eu pedi/Mas o meu Papai Noel não vem/Com certeza já morreu/Ou então felicidade/É brinquedo que não tem.
As canções citadas aqui foram trabalhadas pelos alunos no semestre 2012.2 da disciplina Produção de Rádio (também responsáveis pela transcrição das letras) no programa Conte uma Canção (do Projeto de extensão Aqui e Outrora) e algumas estão reunidas no link abaixo, com a letra completa transcrita, para os ouvintes interessados:
https://soundcloud.com/search?q=conte%20uma%20can%C3%A7%C3%A3o%20-%20natal
No mais, boas festas a tod@s!
Foto: Capa do disco 25 de dezembro, da cantora Simone
Nísio Teixeira
Professor do Departamento de Comunicação Social da UFMG
Pesquisador do Gris/UFMG
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Fantástico!!!
Há décadas procurava a música “Eu Sou Pobre, Pobre” que minha avó cantava enquanto costurava na máquina, comigo criança ao seu pé…
Era difícil, pois não sabia o título, de quem fora a gravação nem a autoria. Só lembrava a letra completa na voz de minha vó…
Parabéns pelo magnífico trabalho de pesquisa!
E o meu muito, muito obrigado…
Lembro-me ainda da música “Patinete no morro” (Luis Antonio), gravada por Marlene em 1954. Música bem crítica, por sinal (abaixo, a letra). Mas acho interessante registrar que o mercado não tem interesse em renovar, desde que sejam garantidos os lucros necessários a sua própria sobrevivência. Por que veicular as músicas interpretadas pela Simone? Porque é mais fácil, afinal se a indústria cultural não se preocupou em produzir novas gravações sobre o tema, por que os shoppings (em especial) buscariam outras canções? As empresas têm interesse no lucro, nas vendas e não está nem um pouco preocupada se a música de fundo produz algum tipo de ruído que possa parecer prejudicial aos seus negócios (aliás, se algum dia for diagnosticado que isso é prejudicial, eles irão “virar o disco”, com certeza.
Papai Noel/Não sobe na favela/O morro também/Tem garotada
Eu botei o meu tamanco/Na janela, e de manhã/Não tinha nada
Patinete lá no morro/É um cabo de vassoura/E tampa de goiabada
E é assim/Que vai crescendo/O cidadão
Vendo morrer/Ilusão sobre ilusão
Você condena/Sem pedir perdão ao céu/É triste um garoto pobre/Crescer sem Papai Noel