Análise | Questões socioambientais

Derramamento de óleo: omissão, medos e incertezas no litoral do Brasil

O vazamento de óleo revela, mais uma vez, um governo incapaz, perdas irreparáveis e um povo desesperado para garantir o presente e o futuro.


Foto: Óleo na praia do Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco. Crédito: Salve Maracaípe/Fotos Públicas.

Desde o final do mês de agosto, quando surgiram as primeiras manchas de óleo no litoral paraibano, o Brasil protagoniza uma tragédia ambiental sem precedentes e com danos ainda não quantificáveis. Já são nove estados atingidos – todos os do Nordeste – e a possibilidade de chegar ao litoral do Sudeste está cada vez mais próxima. Os prejuízos são muitos: ao meio ambiente, ao turismo, à economia, à comunidade local, à saúde humana. 

Embora já dure dois meses e seja considerada a maior tragédia ambiental em extensão do litoral do Brasil, as origens e causas do vazamento ainda não são conhecidas. Há, por enquanto, apenas suspeitas sendo levantadas por autoridades brasileiras. 

O atraso e as falhas de condução do governo brasileiro também foram alvo de muitas críticas e amplificaram o problema. Além da ausência de diálogo com autoridades estaduais, o que prejudicou a realização de operações conjuntas, sobretudo nos primeiros dias do incidente, o Ministério do Meio Ambiente violou vários processos previstos em um manual que orienta a implementação do Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo em Águas sob Jurisdição Nacional (PNC). Com o não cumprimento dos critérios do manual, o PNC foi acionado com 41 dias de atraso, dificultando a realização de operações imediatas de redução de impactos.

As imagens das grandes manchas de óleo e dos peixes, aves e tartarugas marinhas mortos e cobertos de óleo são chocantes. Os prejuízos ao ecossistema marinho e terrestre são inestimáveis. Mas, mais chocantes ainda, são as imagens das populações locais desesperadas e se mobilizando, com seus próprios recursos, para amenizar os efeitos de um problema que ainda nem se tem noção da gravidade, nem do quanto pode se estender.

Os efeitos a longo prazo para a saúde física, tanto pelo contato com o óleo tóxico quanto pela ingestão dos peixes e mariscos, não são totalmente conhecidos. Mas os efeitos psicossociais gerados pela alteração nos modos de vida e pela redução de atividades responsáveis pelo sustento dessas pessoas que se mobilizam, como as associadas ao turismo e à pesca, já podem ser estimados e sentidos, embora sejam também incalculáveis. 

O litoral nordestino, conhecido por sua água quentinha e pelo visual paradisíaco, virou cenário de uma presença desagradável e literalmente tóxica, que vem derramando, além de óleo, muitos medos e incertezas quanto ao futuro.

Cecília Bizerra Sousa, doutoranda em Comunicação/UFMG e pesquisadora do Gris/UFMG



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