Análise | Morte

Morte no IEMG: precisamos falar sobre violência nas escolas

Luiz Felipe Siqueira de Sousa de 17 anos era estudante do ensino médio. Morreu após ter sido agredido na escola. Sua morte é um dos reflexos de um problema que é cotidiano em muitas escolas: a violência.

Um drible no futebol durante o recreio. Este foi o motivo para que começasse uma discussão entre alunos do Instituto de Educação de Minas Gerais (IEMG), escola estadual localizada na região Centro-Sul de Belo Horizonte.

A agressão verbal virou física e Luiz Felipe Siqueira de Sousa, 17 anos, começou a ser agredido com socos e pontapés por um grupo de alunos. O jovem tentou fugir, mas foi atingido com um chute na cabeça, rolou as escadas e bateu a cabeça na mureta.  Socorrido, já em estado grave, com traumatismo craniano, Luiz Felipe morreu poucos dias depois.

O agressor, Hudson Rangel Gomes Rosa, 18 anos, foi preso em flagrante e agora responde por homicídio. Em seu histórico escolar constam mais de vinte registros por agressões, comportamentos indesejados com colegas e professores, uso de palavrões e fuga das aulas.  

A cobertura midiática destacou principalmente a fatalidade do acontecimento. Contrapondo Luiz Felipe, a vítima, como um bom aluno sem qualquer histórico de agressividade e Hudson, um “aluno problema” da instituição. Também apareceram, principalmente na fala da família da vítima, críticas à Secretaria de Estado da Educação (SEE), que não teria tomado nenhuma medida preventiva em relação a Hudson, mesmo já tendo sido alertada anteriormente sobre o aluno pela direção da escola.  

Pouco se falou, no entanto, do problema por trás deste acontecimento que é a violência nas escolas, que vitima não só alunos, como também professores e outros funcionários das escolas brasileiras. Segundo levantamento da Secretaria de Estado de Segurança Pública, entre janeiro e junho de 2018, foram registrados mais de 10,6 mil casos de violência em escolas da rede pública e particular de Minas Gerais, sendo o furto (28,2%), a ameaça (9,1%) e as brigas (7,9%) os tipos mais frequentes. Só na capital foram registrados 1759 casos.

No enfrentamento da violência, as escolas se veem muitas vezes sozinhas, tendo que mediar conflitos sem qualquer estrutura ou apoio por parte do Estado. E não basta às escolas monitorar os alunos por câmeras (o IEMG gravou a agressão) ou investir em equipamentos de segurança, se falta investimento para a formação dos professores e demais profissionais, para que possam criar projetos e ações preventivas e também mediar conflitos.

Este acontecimento revela que para além do ensino das disciplinas, cada vez mais os alunos demandam que as escolas olhem para eles de forma mais ampla, oferecendo um espaço de acolhimento e formação cidadã, que os auxilie no enfrentamento de preconceitos e conscientize sobre atitudes e comportamentos violentos e machistas, que são importantes motivadores de ações de violência no ambiente escolar.

Outros fatores fundamentais que devem ser considerados são às relações familiares, muitas delas distanciadas ou violentas, que refletem em comportamentos violentos também na escola e o envolvimento cada vez mais precoce de muitas crianças e adolescentes com o tráfico de drogas e a criminalidade.

Fabíola Souza

Doutora em Comunicação Social pela UFMG e pesquisadora do GRIS



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