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Noronhe-se: um caso sobre sororidade seletiva

Fevereiro foi um mês cheio. Teve avanço nas discussões da reforma da previdência, teve desdobramento das medidas tomadas pela Vale após o rompimento da barragem de Brumadinho e teve o assunto mais comentado da Internet: a separação dos atores Débora Nascimento e José Loreto.

Imagem: TV Globo/Reprodução

Falar sobre um assunto polêmico e cheio de brechas um tempo depois do ocorrido é uma boa alternativa para uma análise que parte de informações mais consistentes. Contudo, essa técnica não se aplica a este texto, que, mesmo escrito quase dois meses após a explosão do “Caso Noronha”, parte das mesmas dúvidas compartilhadas na semana do dia 16 de fevereiro, data em que as assessorias de Débora e Loreto confirmaram publicamente a separação do casal.

Minutos após a nota enviada pelos assessores do casal à imprensa, os principais veículos do país já noticiavam a separação com o gancho de uma suposta traição de Loreto. Horas depois, o assunto já ocupava as primeiras colocações dos assuntos mais comentados do Twitter e, apesar da enorme repercussão até aqui, esse ainda não é o ponto alto dessa história.

O caso começa a ganhar mais peso quando alguns nomes e boatos surgem no meio da trama. O primeiro foi a especulação de que Loreto teria traído Débora com uma colega de cena. Logo, o nome de Marina Ruy Barbosa, par romântico de Loreto em O Sétimo Guardião, foi apontado. E é aí que tudo começa: Bruna Marquezine, Giovanna Ewbank e outras atrizes deixam de seguir Marina na rede, Caio Blat e Bruno Gagliasso fazem posts ironizando a situação em seus perfis e, por fim, mas de forma alguma menos importante, a conta @joseloretosafado surge no Instagram e em poucas horas ganha milhares de seguidores. O perfil, além de afirmar frequentemente o não envolvimento de Marina Ruy Barbosa com a separação do casal principal do “Caso Noronha”, denunciava supostas festas, envolvendo atores globais, que aconteceriam na pousada administrada por Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank em Fernando de Noronha (PE). Daí a origem dos nomes dados ao caso e à presença de tantas outras personalidades além de Débora e Loreto. O debate, que estava concentrado na questão da traição amorosa, passou para os valores e moralidades que separam os “olimpianos” das demais pessoas comuns.

Mais que tentar entender com detalhes essa trama, até porque isso parece impossível, um ponto que merece destaque nesse acontecimento é a reação do público quando o nome de Marina Ruy Barbosa foi apontado como suposta amante de Loreto. Ao invés de sofrer boicote, que é o que acontece muitas vezes quando um nome feminino entra como pivô de uma separação, Marina recebeu apoio de várias celebridades, influenciadoras digitais e do público feminino como um todo pedindo sororidade, e, até mesmo, do perfil @joseloretosafado.

Uma das partes envolvidas na questão que se tornou uma confusão midiática, Débora Nascimento se manifestou semanas após o ocorrido. No texto, a atriz  evocou valores feministas ao criticar a exposição de sua vida privada, o pré-julgamento sofrido pelas mulheres nessa situação e sua recusa em prejudicar outras pessoas.

Sob uma ótica universalista, esse fenômeno até poderia apontar para um avanço das pautas feministas, onde mulheres se apoiam em oposição ao machismo. Mas, analisando a partir de um viés interseccional, o apoio a Marina não traz nenhuma quebra com o modelo posto. A atriz é branca, de classe média, heterossexual, teve um “bom casamento” e evoca com frequência valores tradicionais da sociedade. Ou seja, apoiar Marina é, em alguma medida, garantir que nenhuma injustiça aconteça a uma pessoa tão “correta”.

A pergunta que fica é: se Marina fosse MC Carol esse clamor por sororidade também aconteceria?

Barbara Lima
Mestranda em Comunicação Social pela UFMG

Pedro Paixão Rocha
Graduando em Jornalismo pela UFMG




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