Análise | Diário da Quarentena Mídia e tecnologia

O rádio e o áudio no combate ao coronavírus

Qual o papel do rádio no combate ao coronavírus? Essa é a questão que move a análise sobre o crescimento de conteúdos em áudio voltados a emissoras comunitárias e comerciais, podcasts e produtos voltados ao combate a notícias falsas nas periferias pelo WhatsApp. Independente da plataforma o rádio enquanto instituição permanece.

Foto: Igor Ovsyannykov / Pixabay

Em 2016, o combate ao vírus zika foi o tema utilizado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) para comemorar o Dia Mundial do Rádio (13 de fevereiro). Na época, a organização fez uma parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte para a distribuição de pequenos comerciais que procuravam mobilizar, alertar e educar os ouvintes sobre os cuidados e o combate ao mosquito Aedes Aegypti. “O rádio é um dos nossos mais fortes aliados para enfrentar desastres naturais e emergências humanitárias”, resumiu naquele período a então diretora-geral da UNESCO, Irina Bokova em vídeo institucional para a América Latina.

“Nosso papel é dar informação para as pessoas, porque neste momento desinformação mata”. Esse foi o argumento do professor Luiz Artur Ferraretto em entrevista para a Tua Rádio São Francisco, emissora de Caxias do Sul na Serra Gaúcha. O argumento, baseado na campanha da Abert, reforça a característica de serviço do meio em períodos de crise, turbulências políticas, tragédias, catástrofes e agora, o combate a um vírus que atinge o mundo e nos obriga a encontrar no isolamento, uma possibilidade de diminuir sua propagação.

O rádio é hoje uma das formas mais eficazes para combater e informar sobre a pandemia principalmente pela penetração do meio, das grandes cidades aos mais longínquos deste país. Segundo o Instituto Projor, que realiza o mapeamento do Atlas da Notícia, dos 13.732 veículos noticiosos mapeados no Brasil, a maioria corresponde a emissoras radiofônicas (35,5%).

Por isso, é preciso destacar ações como a da Rádio Capital FM de Cuiabá em Mato Grosso. A emissora isentou a cobrança de comerciais de micro e pequenas empresas que estão passando por dificuldades neste momento de quarentena. Ainda aqui no Estado, o Comunicast, Projeto de Extensão em Rádio e Podcast da UFMT, também está produzindo o Vida em Quarentena. A produção é realizada dentro de casa e tem como objetivo contar as histórias do isolamento através de diversas vozes. Além disso, o projeto envia boletins de um a dois minutos para pequenas emissoras comerciais e rádios comunitárias do interior (região que possui um dos principais vazios noticiosos do país) com informações sobre o período de quarentena.

O Portal Tudo Rádio intensificou as publicações com artigos sobre a pandemia, orientando ações de cobertura. Em São Paulo, o Projeto Desenrola e Não Me Enrola reuniu comunicadores das periferias para produzir o podcast Pandemia Sem Neurose, que distribui programas curtos voltados ao WhatsApp.

Quem também tem a plataforma de mensagens instantâneas como foco é a Agência Mural de Jornalismo nas Periferias, que distribui conteúdos em áudio sobre a pandemia em locais como Paraisópolis em São Paulo.

Enfim, por todo o país são ações que envolvem diretamente o rádio e o consumo de áudio. Exemplo disso está nos diversos conteúdos produzidos em casa pelas universidades. Atualmente, UFMA, UFMT, UFC, UFPE, USP, UFG, UFSC, UFRN, UFOP, UFRGS, UFRJ são algumas das instituições com boletins, programas radiofônicos para emissoras e para o WhatsApp e podcasts que reforçam o papel do áudio no período de crise. Que a companhia e o afeto radiofônico nos ajudem a passar pela quarentena e a combater o coronavírus.

Produções universitárias em áudio:

  • Podcast “Vida em Quarentena” (UFMT)
  • Podcast “Nós de casa” (UFMA)
  • Boletins da “Rádio Ponto” (UFSC)
  • Boletins da “Rádio UFRJ (UFRJ)
  • Podcast Continente: “Um giro pela pandemia” (UFC)
  • Podcast UFOP Cast “Coronavírus – COVID-19” (UFOP)
  • Programa Fora da Curva (UFPE)
  • Podcast USP Analisa (USP)
  • Série “Coronavírus – Universidade Pública” (UFRGS)
  • “Especial Coronavírus” (UFRN)
  • Especial de Quarentena da Universitária FM (UFC)

Luãn José Vaz Chagas, Professor no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFMT. Doutor em Comunicação pela UERJ. Membro dos grupos de pesquisa Mediações e Interações Radiofônicas e Comunicação Política e Cidadania (Ciclo)



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