Análise | Diário da Quarentena Movimentos sociais e ativismo

Universidade pública e Covid-19: reconfigurando práticas para o bem comum

A atuação universitária para o aprimoramento da sociedade não é algo novo ao contrário, é constitutiva dessas instituições. Diante da pandemia, no entanto, as universidades públicas estão fortalecendo ações práticas junto à sociedade e concentrando mais ainda seus saberes na direção do bem comum.

Foto: Isabella Lucas / UFMG

A pandemia de Covid-19 provocou mudanças significativas na rotina das universidades. A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) suspendeu as aulas presenciais e está operando com trabalho remoto total desde 23 de março, criando e fortalecendo pesquisas e ações de extensão no contexto do combate ao coronavírus. Foi lançada a campanha #ColaboreHospitaisUFMG, visando arrecadar recursos para materiais e equipamentos nos hospitais ligados à Universidade, além da investigação de potenciais tratamentos para o Covid-19, aprimoramento de protocolos para aumentar a confiabilidade dos testes e oferta de acolhimento psicológico à distância para a comunidade acadêmica. A Universidade lançou um Programa de Fomento Cultural para estudantes e o Espaço do Conhecimento UFMG está oferecendo atividades virtuais, como a Gincana do Conhecimento, o Sábado com Libras, e o Clube do Livro Guimarães Rosa. Também foi criado o Observatório Social da Covid-19, que relaciona dados socioeconômicos à crise gerada pela pandemia.

Em todo o país, as instituições públicas de ensino superior estão unindo forças no combate à pandemia: a Universidade Federal de Pelotas está realizando uma pesquisa sobre a subnotificação e o alcance da infecção do coronavírus, enquanto a Universidade Federal de Uberlândia desenvolveu uma tecnologia de diagnóstico de coronavírus que dispensa o uso de reagentes, atualmente em falta devido à alta demanda global. Diversas universidades estão realizando testes de diagnóstico, como a própria UFMG, a UFRN, a UFC e a UFPE. A USP está realizando testes de fármacos para tratamento, além da criação de uma câmara de ozônio para descontaminar máscaras respiratórias e outros equipamentos. A UFRJ está produzindo ventiladores pulmonares e outras instituições, como a UFF, UFMA, UFRN e UFPI estão produzindo álcool 70% para auxiliar a rede pública de saúde, além de máscaras respiratórias reutilizáveis e de baixo custo para profissionais da área.

Outra contribuição da Universidade Federal de Pernambuco é o projeto “Cada semana conta uma história”, que busca conectar pessoas e minimizar as consequências negativas do isolamento social. Paralelamente, um projeto de extensão da Universidade Federal do Ceará lançou o podcast Papo de Quarentena, para tratar do isolamento preventivo, dicas culturais e de atividades físicas em casa. As instituições de ensino superior também estão atuando no combate às fake news sobre a pandemia, divulgando informações sobre higienização pessoal e de espaços físicos; segurança alimentar e orientações nutricionais; cuidados com pacientes, pessoas com diabetes, idosos, imunossuprimidos e imunodeficientes; dentre outros dados sobre os riscos e a prevenção.

A dimensão psíquica e o bem-estar emocional também estão sendo considerados pelas universidades, e várias cartilhas com dicas de cuidado com a saúde mental em tempos de coronavírus estão sendo disponibilizadas, como fizeram Unifap, UFAL, UFSC, UFJF e UFSCar. Além das cartilhas, a terapia comunitária on-line e as técnicas de relaxamento disponibilizados pela UnB, bem como o acolhimento e orientação em saúde mental ofertados pela UFRPE são exemplos de iniciativas concretas neste sentido.

Todas essas ações chamam a atenção para uma nova configuração dos três pilares das universidades federais — ensino, pesquisa e extensão: suspensas as aulas presenciais, as instituições estão fortalecendo as ações práticas junto à sociedade e para além dos muros, frutos da longa trajetória de pesquisa e extensão. Esse contexto ajuda a pensar a vertente do ensino sob outra perspectiva, que excede a sala de aula, contemplando, de modo mais amplo, a formação intelectual e sociopolítica dos cidadãos e o bem-estar da comunidade.

Por meio dessas iniciativas, os professores, estudantes, pesquisadores e servidores estão concentrando seus saberes nas ações práticas para o bem comum, em um processo de aprendizado enriquecedor na seara da formação sociopolítica para a coletividade. A atuação universitária para o aprimoramento da sociedade não é algo novo — ao contrário, é um aspecto constitutivo dessas instituições. A pandemia, no entanto, têm lançado luz sobre a amplitude dessas ações, enfatizando a importância das universidades públicas para a sociedade e para os sujeitos que a constituem.

Lucianna Furtado, Doutoranda em Comunicação (PPGCOM-UFMG)
Cecília Bizerra Sousa, Jornalista, doutoranda em Comunicação (PPGCOM-UFMG) e pesquisadora do Gris




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