Análise | Diário da Quarentena Poder e Política

Se o rei reina, quem governa?

Conforme está sendo noticiado, Braga Netto assumiu protagonismo racional no combate do governo federal ao coronavírus e consequências. Seus esforços podem ser tão frustrados quanto foram na intervenção militar do Rio.

Foto: Valter Campanato / Agência Brasil

Matéria d’O Antagonista diz que “Braga Netto (…) exibe sem reservas seu gosto por mandar e ocupa os vazios do Palácio do Planalto”. O Brasil 247, numa manchete criticada pelo sentido sexista, diz que o presidente da República “virou rainha da Inglaterra”. A máxima “o rei reina, não governa”, estaria sendo colocada em prática no Brasil: sem reinar para a opinião pública, um general da reserva toma as decisões. Se veículos de linhas editoriais opositoras dão destaque para o assunto dos bastidores do poder, é um indicador de que as informações publicadas procedem.

E, afinal, quem é Braga Netto? Não vamos ousar, no curto espaço desta análise, descrevê-lo: recomendamos o perfil traçado no canal Meteoro, do YouTube. O que nos interessa aqui é o ex-militar na Casa Civil* — uma dessas ironias do país em que o ministro da Educação é sem educação* — sendo mais que um conciliador. Netto foi fiador do ministro Mandetta* e linha de frente contra a ala dita ideológica do governo e de apoiadores. É definido em uma palavra pelo jornalismo não só no Brasil como na Itália e Argentina: interventor.

Interventor é figurino que lhe cabe bem: o agora ministro comandou a intervenção na segurança do Rio que diminuiu o número de roubos de carga, crimes contra o patrimônio e assassinatos. A mesma intervenção aumentou o número de tiroteios e mortos em operações policiais. O interventor justificou em entrevista: “o que ocorre é que o bandido no Rio ele tem, tinha uma política de enfrentamento irracional. Ele estava às vezes cercado, com armamento pesado e buscava o confronto. Só que a tropa estava adestrada e tinha muita tropa no local”.

Segundo especialista, uma consequência posterior da intervenção foi a troca do comando do crime em vários territórios: sai o narcotráfico, entra a milícia. Pouco adiantou a fama do general ter “CPF, nome e endereço de cada miliciano no Rio”. Hoje, esforços do ministro para “recuperação” podem ser um tanto inócuos. Afinal, seguem os comportamentos irracionais de passeios, cumprimentos, prescrição de automedicação e falas apressadas, como “parece que o vírus começa a ir embora”. Seja quem for que governa, o reino é do vírus.

Gáudio Bassoli, Mestre em Comunicação Social pelo Gris



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