Análise | Internacional

Os primeiros meses de Donald Trump na presidência dos EUA

Essa análise se propõe a discutir como as decisões iniciais do governo de Donald Trump repercutiram e o que revelam do contexto político-social norte-americano.

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“Donald Trump será o novo presidente americano. Infelizmente. Seu discurso fala com uma América profunda, desperta aspectos intuitivos e emocionais do povo americano, notadamente do povo branco americano. Seu discurso portanto tem eco, tem força, tem relevância.”[1]

Em uma busca rápida no site do Grislab pela palavra “Trump” surgem cinco análises. Três o citam indiretamente, uma analisa a campanha eleitoral e a preocupante ascensão do então candidato; a mais recente, em novembro de 2016, analisa o momento logo após os resultados da eleição. O comentário que abre este texto previu corretamente o encaminhamento das eleições e nos serve de gancho para discutir alguns desdobramentos do acontecimento Trump.

O presidente dos EUA já era motivo de preocupação antes das eleições, como foi reiterado nestas análises. Então, por que seguir discutindo o tema? Como é próprio dos acontecimentos, eles continuam reverberando, trazendo novas questões,  impactando nossas experiências a todo momento, e a chegada de Trump à Casa Branca impactou, não só seus conterrâneos, como o mundo. Haja vista a grande marcha das mulheres[2] que aconteceu no dia seguinte à posse do presidente e as manifestações constantes desde então.

As decisões iniciais de Donald Trump revelam sua capacidade de agência, apesar dos controles impostos pelos demais poderes políticos e a existência de uma Constituição respeitada. A medida de fechar as fronteiras por 120 dias e proibir a entrada de pessoas do Irã, Iraque, Líbia, Somália, Sudão, Síria e Iêmen, causou revolta mundial, por exemplo, e acabou barrada judicialmente. O primeiro discurso de Trump no Congresso[3], entretanto, agradou ao Partido Republicano e a uma parcela da população, já que 78% dos telespectadores da CNN o avaliaram positivamente[4] neste discurso em pesquisa recente. São dados superficiais, mas indicam que pouco a pouco, com ajustes de imagem e assessoria, o caminho do republicano está angariando simpatizantes.

Os discursos e ações de Donald Trump representam muitas pessoas e encontram identificação em partes esquecidas de um país tão grande e diverso como os EUA. Esses posicionamentos existem e, democraticamente, fazem parte do jogo. Agora, entretanto, encontram respaldo institucional e podem causar grandes prejuízos a outras parcelas da população que demoraram a conquistar direitos mínimos. Em uma sociedade liberal democrática, a existência da pluralidade é almejada e celebrada. Mas a custa de quem[5]?

Ao insistir em políticas de imigração rígidas e xenofóbicas para alguns países de origens árabes/maioria muçulmana, mas não para outros países por motivos político-econômicos, Trump dá um recado. Suas políticas em relação conflitos bélicos, sua política de saúde e as novas normas em relação aos imigrantes ilegais residentes no país, também indicam o caminho nacionalista tomado pelo atual Presidente.

Não significa que ele não encontrará resistências: paralelamente à marcha de Washington, houve manifestações em outras partes do mundo[6] rechaçando o que presidente representa. O presidente francês François Hollande, durante um encontro em janeiro de 2017[7], defendeu um endurecimento da resposta dos países da comunidade europeia às medidas de Trump e às suas declarações contra a União Europeia e a OTAN[8]. Dois exemplos de obstáculos que o governante americano encontrará nas ruas e nos parlamentos.

A emergência dessa figura política revela um contexto social conservador em que outras figuras surgem (o senador Ted Cruz e o Tea Party, por exemplo) e que é, paulatinamente, reforçado pelas decisões de Trump. Neste movimento de retroalimentação, o contexto político-social é produto e produtor de discursos e práticas cada vez mais individualistas, racistas, xenofóbicas, nacionalistas, apoiando-se numa ideia de defesa do próprio país e de sua cultura. Seguimos na incerteza do que Donald Trump, aliado a um Congresso e Senado majoritariamente Republicanos, irá fazer. Podemos dizer, por enquanto, que o cenário que se apresenta na “grande América” de Trump é de um futuro sombrio.

Laura Lima
Mestranda do PPGCOM-UFMG
Pesquisadora do GRIS



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