Um autoproclamado presidente da república e o apelido do ministro do Paulo Guedes viralizam nas redes sociais digitais. A oposição ao governo federal se resume a tão pouco?
“Trocar as cadeiras vermelhas por azuis. ‘Menino veste azul e menina veste rosa’. Ninguém quer o gabinete número 24 no congresso. Bolsonaro bloqueou o Haddad no tuiter (sic). A quinta série assumiu o país.” O tuíte, publicado na primeira semana de janeiro, não poderia ser mais preciso: a quinta série assumiu não só o governo, como também a oposição.
Pedindo perdão pelo jogo de palavras, se o regime venezuelano apodreceu de tão maduro, o Brasil segue mais verde que sua bandeira. Nos pouco mais de cem dias de 2019, além das comemorações pela prisão de Michel Temer, analisada neste GrisLab, o ator José de Abreu se autoproclamou presidente do Brasil e o deputado Zeca Dirceu se referiu a Paulo Guedes na Câmara dos Deputados como sendo “Tchu Tchuca com os banqueiros”.
Sobre Zé de Abreu, este analista confessa: eu não tinha grande interesse no ator, gostei da piada da autoproclamação e passei a segui-lo. Em poucas horas, com minha timeline monopolizada pelo empolgado militante, desisti. Ainda que inteligente ao questionar a situação venezuelana, tanto a adesão de políticos como Jandira Feghali e Lula quanto entrevistas e recepção para posse passaram do ponto. Talvez a brincadeira sequer merecesse toda a problematização e polarização em torno de sua validade ou não: bastava ter sido feita e o autoimpeachment ter sido mais cedo. Temos mais o que fazer.
Quanto ao bate-boca na Comissão de Constituição e Justiça, Zeca Dirceu agiu dentro do espírito democrático, não quebrou o decoro. Mas sua fala mina ainda mais a imagem de um Congresso caricato. Ação ruim, reação pior: mesmo com o Bonde do Tigrão (grupo de funk que popularizou a expressão utilizada pelo deputado) lançando nota em favor da “Tchu Tchuca dos banqueiros”, a reação de Paulo Guedes, típica de uma masculinidade frágil, conseguiu ser ainda mais infantil que a provocação do qual foi vítima. Alguém que entra para a política assumindo não ter perfil para a política segue a cartilha de um presidente que pede desculpas por não ter nascido para sê-lo. E quem se lembra do tempo de escola sabe que quanto mais se apela com o apelido, mais ele pega…
Somos bons em fazer comédia da tragédia, mas é preciso não reproduzir o infantilismo que tomou conta do Brasil e que tem sérias consequências. Jovens deputadas, como Tábata Amaral (que se tornou sensação ao emparedar o agora ex-ministro da educação, Ricardo Vélez) e Talíria Petrone (que, ao ser interpelada por um colega, respondeu que não é menina, é deputada eleita), têm representado melhor a maturidade e a responsabilidade necessárias em um momento que exige adultos na sala. Dizem mesmo que as mulheres amadurecem mais rápido.
Gáudio Bassoli
Mestre em Comunicação Social pela UFMG e Apoio Técnico do Gris