Superando a espera pelo final feliz, logo na estreia de Babilônia, um beijão entre as personagens de Fernanda Montenegro e Nathália Timberg causou um gosto amargo na boca de muita gente. Mas da minha boca, que dá beijos gays todos os dias, o que saiu foi um grito de “Chupa, família mineira!” Só que não demorou muito tempo até que o amargo também chegasse a ela através de uma corrente do Whatsapp.
Apesar de não haver nessas correntes uma atribuição de autoria a públicos evangélicos, a convocação de boicote que elas traziam lhes foi atribuída. A sequência exaustiva de acontecimentos que colocaram os evangélicos como o inimigo número 1 das causas homossexuais no país parece ter gerado uma resposta prévia de como enquadrar essa nova oposição a elas. De fato, esse enquadramento foi corroborado quando a bancada evangélica na Câmara assinou uma nota de repúdio convocando o boicote.
Ironicamente, a personagem evangélica de Arlete Salles em Babilônia gosta de dizer que tudo a gente aprende vendo novela. O filho dela é um político corrupto que também é evangélico. Na segunda semana de exibição de Babilônia, esse personagem deu dinheiro à amante para que ela abortasse ao engravidar dele. Ao ver a cena, imaginei que haveria uma nova onda de repercussões negativas por parte de públicos evangélicos, mas me surpreendi ao constatar a ausência dela. Essa sequência de acontecimento e não acontecimento indica que um beijo entre duas pessoas do mesmo sexo em uma novela consegue afetar e mobilizar públicos evangélicos de forma muito superior a um adultério e a um aborto ocorridos numa família evangélica nesse mesmo produto. Mas mais do que indicar uma tolerância ao aborto e ao adultério, também condenados por doutrinas evangélicas, essa discrepância reforça a ideia de que a homossexualidade figura como o pecado número 1 na lista de proibições desses grupos.
Na terceira semana de exibição da novela, a personagem Teresa, de Fernanda Montenegro, voltou a virar notícia ao mandar um beijinho no ombro para os que são contra o sistema de cotas nas universidades. Apesar de o destinatário dessa provocação ser outro, as novelas da Globo parecem estar, de fato, mandando cada vez mais beijinhos no ombro para os públicos contrários aos beijos entre pessoas do mesmo sexo. Vejamos a seguir se elas realmente ensinam tudo.
Vanrochris Vieira
Mestre em Comunicação Social pela UFMG
Pesquisador do Gris/UFMG
Foto: Reprodução / TV Globo
Caso este tema seja de seu interesse leia outra análise desta pesquisador: “Beijo gay: um acontecimento que nunca acontecia.”
El vardenafilo tampoco evita el embarazo ni la propagación de enfermedades de transmisión sexual, como el virus de la inmunodeficiencia humana (VIH).
Ótima análise. Mas, pelo que se vê nestas semanas seguintes, a partir das mudanças que a Globo fez e continua fazendo nesta novela, parece que a emissora não conseguiu resistir muito à queda da audiência e segurou um pouco os beijinhos no ombro que estava mandando.