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A Força do Querer: três motivos para os bons índices de audiência

A novela de Glória Perez chegou ao fim rendendo uma média de 36 pontos de audiência, com destaque para o capítulo final que rendeu 50 pontos no Ibope. Índices não obtidos desde Império (Agnaldo Silva, 2014/15), cuja média geral foi de 33 pontos. Em termos de audiência, desde que a Globo instituiu o novo horário das 21 horas para novelas, somente Avenida Brasil (João Emanuel Carneiro, 2012) continua imbatível.  Mas quais os motivos para todo esse sucesso?

Bibi e sua luta ética entre o bem e o mal. Reprodução.

A história de Bibi, Rubinho e outras personagens marcantes chegou ao fim no último dia 20 em A Força do Querer (Glória Perez). Antes mesmo de levar ao ar o último capítulo, a Globo já comemorava a boa média de audiência de 36 pontos no Ibope. Os motivos para essa empolgação podem ser justificados em três pontos diferentes: a escolha de um bom elenco, a distribuição da história em poucos núcleos e a abordagem de temas polêmicos com um viés de educação e denúncia.

No folhetim, atrizes consagradas como Juliana Paes, Paolla Oliveira, Lilia Cabral, Elizângela, Débora Falabella e Maria Fernanda Cândido deram o tom da trama (que por sinal girou muito em torno das histórias das personagens femininas), cujas atuações foram divididas com atores e atrizes não tão famosos, mas não menos talentosos, com destaque para Silvério Pereira (Nonato/Elis Miranda), Jonathan Azevedo (Sabiá) e Carol Duarte (Ivana/Ivan).

A história foi contada em poucos núcleos o que facilitou o entendimento da trama e a relação entre os personagens, criando uma proposta mais coesa e dinâmica para a novela. Como eram poucos núcleos, as personagens eram interligadas e envolvidas em várias cenas de ação e suspense, por exemplo nas sequências rodadas na favela Morro do Beco e nos riscos corridos por Silvana (Lilia Cabral) em suas noites de jogatinas em cassinos clandestinos. Com menos núcleos era possível, por exemplo, que Bibi contracenasse com Silvana, Elvira (Beth Faria) com Sabiá, Jeiza com Caio (Rodrigo Lombardi) e Zeca (Marco Pigozzi), e Ritinha (Isis Valverde) com Joyce e Edinalva (Zezé Polessa).

Falar de transexualidade, tráfico de drogas, adultério e jogos de azar no momento atual por que passa o Brasil, em que parte da sociedade tenta censurar até obras de arte, não é tarefa fácil para qualquer autor de novelas. Neste ponto, a Globo aprendeu com os erros de Babilônia (Gilberto Braga, 2015), quando levou ao ar o beijo entre Fernanda Motenegro e Nathalia Timberg logo no primeiro capítulo. Desta vez, a emissora trabalhou os assuntos polêmicos a partir da ótica do preconceito e não da sua defesa. O preconceito de Joyce com a transformação da filha Ivana em Ivan, de Heleninha (Totia Meirelles) com Bibi e Rubinho e o machismo de Eurico (Humberto Martins) foram algumas das estratégias utilizadas por Glória Perez para afinar o discurso e acalmar os ânimos moralistas das áreas mais conservadoras da nossa sociedade.

Por último, é interessante observar que em A Força do Querer a discussão sobre as distinções de classe não foi tão acentuada como em Avenida Brasil. Membros de classes sociais diferentes se misturaram, como na cumplicidade das patroas da zona sul carioca com as suas empregadas. Talvez essa tenha sido a estratégia mais sutil da novela para atrair a audiência. Sobre a criminalidade, a autora continuou com sua postura de querer romantizar os problemas sociais das favelas cariocas. Foi pior em Salve Jorge (2012), mas ainda distante da realidade em A Força do Querer.

Gilvan Araújo
Doutor pelo PPG-COM UFMG e professor do Centro Universitário Estácio de Belo Horizonte



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