Nas últimas semanas, alguns casos de violência contra mulher vieram à tona, seguidos das reações de diferentes públicos: o cantor Victor, da dupla Victor e Leo, foi indiciado por agredir fisicamente sua esposa; o ator José Mayer foi denunciado pela figurinista Su Tonani, que expôs publicamente os vários momentos em que foi assediada; e Marcos Harter, que coagiu física e emocionalmente sua namorada no BBB, foi expulso do programa e deve responder processo na Justiça.
Os três casos foram bastante repercutidos e muitas pessoas se manifestaram nas redes sociais, tanto apoiando os agressores quanto defendendo as mulheres agredidas. O que consideramos importante destacar, para além da permanência do machismo em uma sociedade patriarcal como a que vivemos, são as afetações desses três acontecimentos.
No caso de Victor, seu desligamento do The Voice Kids e o cancelamento de shows já agendados mostraram que a pressão popular sobre o cantor se fez sentir, e sua imagem pública foi consideravelmente afetada.
O mesmo pode ser dito de Mayer, que foi cortado do elenco da próxima novela para a qual estava escalado. Como resposta, atrizes, apresentadoras e funcionárias da Globo fizeram uma campanha #mexeucomumamexeucomtodas, posicionando-se contra os vários tipos de violência de gênero e assédio.
No BBB, Marcos foi expulso antes da final e indiciado por agressão pela Polícia Civil do RJ; perícias nas imagens dos pay-per-view 24 horas e no corpo de Emilly confirmaram as agressões, e o próprio BBB pode ter sido prejudicado junto aos anunciantes – que cada vez mais se preocupam em não ter sua imagem associada a figuras e acontecimentos de violência contra a mulher.
Nas redes sociais, nas discussões nos programas semanais, nos portais de notícia, o que se viu foi uma grande mobilização de públicos variados, inclusive em defesa dos acusados, mas discutindo os casos e compreendendo que o escopo da violência é bem maior que apenas a física. Outros casos semelhantes há alguns anos não foram capazes dessa movimentação, como o dos ex-BBBs Monique Amin e Daniel Echaniz. Apesar de Daniel ter sido expulso, Monique não contou com a solidariedade que Emilly continua recebendo.
Aparentemente, Mayer também já havia sido denunciado outras vezes, sem consequências como as atuais. A autocrítica e o pedido de desculpas do ator – “tristemente, sou sim filho de uma geração que aprendeu, erradamente, que atitudes machistas, invasivas e abusivas podem ser disfarçadas de brincadeiras ou piadas” – não sensibilizaram nem foram suficientes para resgatar sua credibilidade. A naturalização com que o assédio era tolerado e encoberto começa a ser problematizada e, para parte já considerável da sociedade, as diferentes formas de violência contra a mulher passam a ser vistas e vividas como um sério problema público.
Existem diferenças geracionais, certamente, mas o que conseguimos observar pouco a pouco nas manifestações populares é a menor tolerância com justificativas desse tipo e um engajamento com as mudanças para certa parte da população. Nesse sentido, algumas campanhas como Chega de Fiu-fiu, #meuprimeiroassedio e a campanha mais recente #mexeucomumamexeucomtodas tratam de dar visibilidade aos problemas e desnaturalizar comportamentos que são entranhados no cotidiano machista. São pequenos passos em direção a um futuro mais equânime.
Laura Lima
Mestranda do PPGCOM-UFMG
Pesquisadora do Gris
Vera França
Professora do Departamento de Comunicação Social da UFMG
Coordenadora do Grislab