Donald Trump e Kim Jong-un se encontraram em Singapura dia 12/06, e assinam acordo histórico. O que esse acontecimento tem a dizer sobre as relações internacionais, a imagem pública de ambos e a política midiática praticada em 2018?
Desde a eleição de Donald Trump no final de 2016, uma das pautas mais discutidas é a questão nuclear, especialmente com a Coreia do Norte. Ao longo de um ano e meio de governo, o sentimento de instabilidade mundial cresceu com ameaças de ambos os lados e tuítes de Trump provocando Jong-un. Entre eles, uma resposta à declaração do norte-coreano dizendo que seu botão nuclear ficava em sua mesa, Trump disse: “Alguém desse regime falido e que tem fome pode informá-lo que eu também tenho um botão nuclear, mas muito maior e mais poderoso que o seu, e o meu funciona”.
Os dois adotaram uma performance pública política no mínimo diferente nos últimos meses, que se opõe ao imaginário coletivo sobre políticos (calculadamente menos combativa e mais inclinada ao jogo diplomático e formal). Trump e Jong-un não se acanharam em adotar uma postura bastante belicosa e até infantil, em determinados momentos, medindo poder e influência. As condições de um mundo globalizado e midiatizado são favoráveis a essa espécie de “guerra fria” que se desenrolou, em que cada movimento era esperado com apreensão e cada fala era analisada.
O encontro dos dois líderes já estava marcado há algum tempo mas parecia que não ia acontecer, devido à dificuldade mútua de aceitar os termos da cúpula. A reunião de Kim Jong-un com Xi Jinping (presidente da China) irritou Trump; os exercícios anti nucleares dos EUA com a Coreia do Sul, além da exigência da desnuclearização total, irritaram a Coreia do Norte.
Mas finalmente aconteceu em território neutro, como é praxe em encontros diplomáticos, na Ilha de Samosa – território de Singapura, observado por milhares de câmeras e repórteres do mundo inteiro. O acordo assinado por ambas as partes tem quatro pontos: desejo e compromisso pela paz e prosperidade; busca pela paz na península coreana; desnuclearização da Coreia do Norte e recuperação dos restos mortais de prisioneiros de guerra; é breve e bastante genérico, sem explicar como cada um dos pontos será colocado em prática, sem estabelecer prazos ou metas (apesar de o secretário de Estado estadunidense Mike Pompeo ter declarado que espera um “grande desarmamento em até dois anos e meio”).
O balanço da revista NYMag aponta os vencedores da reunião: a imagem da Coreia do Norte, que se consolida como um player internacional capaz de mobilizar o presidente dos EUA e que espera a ajuda desse país na diminuição das sanções internacionais e no crescimento econômico; o próprio Trump, que sai fortalecido como o responsável por dizimar a ameaça atômica e candidato a Nobel da Paz; pessoas preocupadas com uma possível guerra entre os dois países. Entre as perdas da reunião estão as regras diplomáticas feitas para prevenir guerras que se baseiam em menos personalismo e mais estrutura e as vítimas de abuso aos direitos humanos, que foram propositalmente desconsideradas por Trump.
O documento que fala em “esforço” pela paz e prosperidade, deixa ver o quão frágil é a negociação iniciada pelos países, apesar de Trump ter afirmado que a “ameaça nuclear está acabada”, e que diplomacia arriscada Trump está disposto a fazer. É ao menos um “compromisso político público”, mas não há garantias de que seja levado adiante.
Laura Lima
Mestra em Comunicação Social pela UFMG e pesquisadora do Gris