Com a pior audiência durante quase duas décadas de programa, a 19a edição do BBB tem sido marcada pelo racismo e outros tipos de preconceito. Enquanto a Globo tenta criar estratégias para agradar o público, a Polícia Civil se tornou uma espectadora, já que as falas de alguns participantes estão sendo observadas dentro de uma investigação.
A audiência do Big Brother Brasil está em crise: a décima nona edição exibe os menores índices de público da história do programa. Para se ter ideia, em comparação com a sexta temporada, uma das mais criticadas até hoje, os números do BBB19 representam menos que a metade do Ibope.
Como justificativa, os fãs afirmam que “falta barraco”; a impressão geral é que os participantes evitam desentendimentos e confusões em prol da boa convivência e, obviamente, com interesse no prêmio. O curioso é que a mesma edição sublinhada pela ausência de “tretas” também é marcada por discursos racistas, de abuso e intolerância. Foram “barracos” suficientemente grandes para chamar a atenção das autoridades.
O UOL informou que um delegado da Polícia Civil enviou um ofício à Globo solicitando imagens de Maycon Santos, na mira da justiça por conta de declarações perversas sobre maus tratos a animais e intolerância religiosa. Mas, na verdade, são as falas de Paula Viana que têm chamado a atenção dos usuários das redes sociais. Eles questionam que a emissora edita o programa que é veiculado na TV aberta, de maneira que, quando as declarações racistas são exibidas (a maioria não é), não são problematizadas como tal.
Após as denúncias do público on-line, a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) confirmou a instauração do inquérito e manterá em sigilo a investigação. Mas, enquanto isso, Paula, que é advogada, continua dentro da casa declarando absurdos e ofendendo muita gente.
Ela já chamou cabelo cacheado de ruim, já disse que piadas sobre loira burra são racistas e, enquanto contava a história de um crime, relatou que ficou surpresa quando descobriu que o criminoso não era um “faveladão”, mas sim um “branquinho”. Sobre cotas raciais, ela afirmou ser contra, porque acha que é uma forma de preconceito do próprio Estado, e também definiu o que acredita ser humor negro: “é você pegar uma pessoa negra e começar a fazer piadinha contra ela”.
O nível de desinformação da mineira, apesar de grande, não mascara o preconceito. Pelo menos para os internautas, que fizeram com que o assunto “BBB protege racista” virasse um dos mais comentados do Twitter. A irmã de Paula, Mônica, que também é advogada, loira e de olhos claros, tenta defendê-la: “ela não é preconceituosa. Nossa família é africana, nossa avó por parte de mãe é negra (…) ela já teve dois namorados negros (…) as frases [que Paula disse] infelizmente estão na sociedade, mas ‘causam’ porque ela está na TV”.
A tentativa de defesa revela que a visão de Paula é compartilhada entre familiares – e felizmente não tem surtido efeito, visto a reprovação que ela tem recebido do público. No entanto, é lamentável constatar que parte do comentário é verdadeiro: o discurso de Paula realmente é fruto de uma sociedade hipócrita, assim como as situações que têm acontecido no BBB refletem o caótico cenário brasileiro.
A Globo, representando a força do centro midiático, apenas reforça que respeita a diversidade e repudia com veemência qualquer tipo de intolerância e preconceito. Mas, pelo entretenimento, continua sem problematizar nenhuma das questões abertamente.
Fernanda Medeiros
Doutoranda em Comunicação Social pela UFMG
Pesquisadora do Gris