Análise | Esportes Movimentos sociais e ativismo

Cadê o pessoal do #nãovaitercopa?

Diário da Copa – Teve Copa, e para alguns, foi a Copa das Copas. Vimos a Alemanha campeã em campo e vivemos um Brasil que ainda tenta entender suas perdas e ganhos com a Copa do Mundo. Nesta análise a mestranda Raquel Dornelas questiona a quase invisível presença das tão aguardadas manifestações ao fim deste evento que mobilizou o país e o mundo por 32 dias.

Onde estão aqueles que disseram que não ia ter copa? Cadê os protestos? Durante a realização da Copa do Mundo no Brasil, muita gente fez essas perguntas. Na maior parte das respostas, percebia-se um tom de ironia, uma certa comemoração pelo que muitos consideraram o fracasso das manifestações: “O gigante acordou e foi assistir aos jogos”. Outras respostas traziam um sentimento de descrença na capacidade de mobilização do brasileiro: “Aqui é assim mesmo. O povo esquece tudo quando tem futebol”.

De fato, em comparação ao que vimos nas ruas durante a Copa das Confederações em 2013 ou antes do início dos jogos em 2014, os protestos e o número de participantes diminuíram bastante durante o mundial. Além disso, os eventos pontuais que ocorreram em junho e julho deste ano não se tornaram pauta para a grande imprensa e, quando isso aconteceu, ganharam destaque mais pelos chamados “atos de vandalismo” do que pelas reivindicações dos manifestantes.

Apesar da menor quantidade, as manifestações não cessaram durante a Copa do Mundo. Em Belo Horizonte, desde o início do campeonato, diversas iniciativas foram realizadas. Como exemplo, podemos citar os atos 12J, 14J, 17J, 28J (todos em junho) e sessões da Assembleia Horizontal especificamente contra a Copa. Ainda durante o campeonato, moradores de diversas ocupações da região metropolitana de BH acamparam em frente à prefeitura e ocuparam os prédios da Advocacia Geral do Estado e da Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel), sob o lema #vaitercasa. Também na capital mineira, a queda do viaduto, que deixou dois mortos e diversos feridos, motivou a realização de pelo menos dois protestos.

Em São Paulo e no Rio de Janeiro, os atos também não cessaram nos meses de junho e julho de 2014. Entre eles, podemos citar a manifestação “Luta pela reintegração dos metroviários demitidos: ato na abertura da Copa!” e o ato “20J: O Retorno do Gigante (1 ano) e Festa Junina #FifaGoHome”.

Mas porque essas pessoas insistiam no bordão “FIFA, vá para casa” enquanto o campeonato ocorria de vento em popa? Para que gritar “não vai ter Copa” quando de fato estava tendo Copa? Segundo ativistas, o grito de guerra persistia porque simboliza uma causa: “Ora, o ‘não vai ter copa’ é uma bandeira de luta […] aponta para o fato de que muitos estão insatisfeitos com esta copa e que, para muitos, de fato quase toda a população média e a classe trabalhadora, não há copa de fato”, explicam os administradores de uma página no Facebook que reúne defensores da causa.

Portanto, mesmo com menor apoio da população e menor repercussão, alguns ativistas persistiram em suas lutas. Não vem ao caso discutirmos aqui a pertinência ou não das pautas nem vamos entrar no mérito dos protestos que ocorreram no dia da eliminação do Brasil (cujas motivações eram outras). O fato é que, mesmo enquanto todos ainda estavam eufóricos na torcida, muitos manifestantes não deixaram suas reivindicações morrerem. Mesmo sem apoio do grande público que saiu às ruas em 2013, esses brasileiros e brasileiras provaram que o gigante não esteve na sala apenas assistindo aos jogos ou acordado somente durante as Jornadas de Junho. Para esses ativistas, na verdade, ele nunca esteve dormindo.

 Foto da home: Ricardo Anderaós – Brasil Post

Raquel Dornelas
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UFMG
Pesquisadora do Gris/UFMG



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