O debate sobre o controle de armas nos Estados Unidos contrasta com o lobby pela liberação do armamento no Brasil.
Muito usado como exemplo para liberação do porte de armas, os Estados Unidos da América, só no ano de 2018, registraram mais de 10 atentados de civis com armas em locais públicos, como escolas e praças. Uma solução seria um controle maior do porte de armas. No entanto, o presidente dos Estados Unidos da América teve uma outra ideia.
Donald Trump propôs armar os professores de escolas do ensino médio e fundamental, como medida para evitar assassinatos. Numa escola de Flórida, 17 pessoas, entre alunos e professores, foram baleadas e mortas. Trump exemplifica: “Se o treinador [que morreu agindo como escudo para proteger seus alunos] tivesse uma arma no seu armário quando foi atrás desse sujeito, teria atirado nele, e teria sido o final disso”.
O acontecimento de Flórida – acrescido da fala de Trump – suscitou um debate sobre o porte de armas no país inteiro. Manifestações de variados setores da sociedade surgiram sob o nome “Marcha pelas nossas vidas”, está sendo reivindicada uma legislação mais rígida para o porte de armas, e um controle efetivo da comercialização do armamento. Membros mais radicais do movimento exigem o fim do porte e até mesmo sua criminalização. As manifestações envolveram até celebridades como a cantora Miley Cyrus. Trump chegou a informar que faria algumas mudanças, mas são alterações tímidas e não suprem as exigências do movimento.
Enquanto alguns cidadãos estadunidenses reconhecem os problemas e falhas da liberação do porte de armas, outros cidadãos brasileiros acreditam que a solução para uma efetiva segurança será alcançada com a licença à compra e venda de armas.
No Brasil existe uma Frente Parlamentar Armamentista, que tem por objetivo acabar com o Estatuto do Desarmamento, visando liberar o porte de armas para toda a sociedade civil. Esses parlamentares usam argumentos como a incapacidade da segurança pública, a vulnerabilidade do “cidadão de bem”, e ineficiência do estatuto, uma vez que ele foi projetado para diminuir a violência.
O segundo colocado nas pesquisas de intenção de voto para a presidência no Brasil, uma das vozes de frente desse movimento, usa e abusa das mesmas falácias para apresentar o seu “projeto faroeste”. O que acontece nos Estados Unidos deveria servir de exemplo para que possamos pensar sobre a liberação de porte de armas. Ao que se fala, parece muito simples, “as pessoas morrem por falta de segurança e formas de se proteger, vamos liberar as armas para os cidadãos de bem e pronto”. Mas há muitas fragilidades nesse raciocínio: e o número altíssimo de policiais que, mesmo armados e treinados, morrem em serviço no país? E o fato de várias armas ilegais no Brasil, usadas pelo crime organizado, terem sua origem no comércio legal dos Estados Unidos? E (apesar do aumento da violência) a diminuição, da curva de crescimento o índice de homicídios depois do Estatuto do Desarmamento?
Como já foi dito, “para cada questão ampla e complexa, existe uma resposta que é simples, prática e errada”.
Paulo Basílio
Mestrando em Comunicação do PPGCOM-PUC Minas e Apoio Técnico do Gris Lab