Análise | Morte

Incêndios no Rio: acontecimentos mostram fragilidade na fiscalização

Os episódios de incêndios do Hospital Badim, do Museu Nacional e do Ninho do Urubu sinalizam a fragilidade no cumprimento das normas de segurança no Rio de Janeiro.
Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil.

Onze pessoas morreram em um incêndio no Hospital Badim, na Tijuca, Zona Norte do Rio de Janeiro, no dia 12 de setembro deste ano. Os pacientes precisaram ser socorridos às pressas e leitos foram improvisados na Rua São Francisco Xavier, com colchonetes jogados pelas janelas. Outras vítimas foram levadas com urgência para instituições próximas, sendo que oito delas faleceram após o incêndio.

A capital fluminense ainda protagonizou dois outros incêndios de grandes proporções no último ano. Um curto-circuito em um ar condicionado provocou as chamas no Museu Nacional, em setembro de 2018, destruindo grande parte do acervo. Em fevereiro de 2019, dez jovens atletas morreram em decorrência de incêndio no Centro de Treinamento do Flamengo, o Ninho do Urubu.

Os episódios nos levam a refletir sobre a falta de investimentos tanto na cultura, como no caso do Museu, quanto em fiscalização em infraestrutura, como nos casos do hospital e do Ninho do Urubu. De acordo com levantamento da Câmara dos Deputados, o Museu Nacional teve verbas reduzidas em R$ 336 mil entre 2013 e 2017. Vale ainda lembrar que o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, também foi destruído por um incêndio, em dezembro de 2015.

O caso do Ninho do Urubu nos revela que, mesmo cobrando mensalidades dos meninos para os treinamentos, houve descaso com o uso de material altamente inflamável nos alojamentos. Para se tornar um atleta reconhecido, torna-se necessário enfrentar diversos obstáculos: deixar as famílias,  viver em más condições no Centro de Treinamento, tudo em prol de uma meta maior, que viria através do mérito. Os meninos do ninho nunca terão a oportunidade de alcançar essa meta…

O episódio no Hospital Badim também gira em torno de uma lógica de exploração capitalista, em que o lucro está acima das vidas. Sendo um hospital particular, o local falhou na manutenção das instalações. E o problema não se concentra apenas no Rio.

Em julho deste ano, a Folha mostrou em reportagem que a maioria dos hospitais públicos no estado de São Paulo funcionam sem o documento obrigatório de atestado contra incêndio. Ainda de acordo com o periódico, pelo menos 20 instituições de saúde pegaram fogo neste ano no país.

Não há uma legislação única para incêndios no Brasil: cada estado pode determinar as suas regras. No caso do Rio, o Código de Segurança Contra Incêndio, redigido em 1976, foi atualizado apenas no último ano, mas passou a valer somente em setembro de 2019. A nível nacional, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) publicou em abril a norma NBR 16.651, visando minimizar os riscos de incêndios. Espera-se que essa nova legislação sirva de norte para que, de fato, medidas de segurança sejam tomadas antes que outras fatalidades aconteçam no país.

Renata Monty, jornalista e doutoranda em Tecnologias da Comunicação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, bolsista Faperj.



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