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Música, atualidade e nostalgia: o Rock in Rio dividido em duas partes

Acabou o Rock in Rio 2017. Foram sete dias de apresentações que impactaram o Brasil; tanto para aqueles que presenciaram os shows, como para a imensa maioria que, por diversos motivos, não teve acesso ao ingresso. A partir de um rápido balanço geral sobre o evento, buscamos observar como as relações se conformam em torno do entretenimento representado nesse acontecimento midiático.

Alicia Keys e a líder indígena Sonia Guajajara – Foto: Reprodução/Globo

Depois de dezenas de apresentações, o fim da quarta edição do Rock in Rio, um dos festivais mais bem sucedidos do mundo deu o que falar – nas ruas, nas mídias convencionais e nas redes sociais digitais. O evento mobilizou o país de diversas maneiras.

Logo no primeiro dia, a programação de um dos principais canais de jornalismo foi interrompida com a informação sobre o cancelamento do show de Lady Gaga em função de problemas de saúde. A reação dos fãs virou notícia nos veículos, além de ter rendido muitos debates nas redes.

Passado o choque, o primeiro final de semana do RiR teve uma nota política que chamou a atenção, para além das musicais. Gisele Bundchen abriu o festival com um discurso super emocionado, lançando o projeto Believe Earth/ Amazônia Live, que visa jogar luz sobre questões ambientais, como a proteção da floresta amazônica. Embalada por um grito de Fora Temer entoado pela plateia, a performance da modelo foi capaz de motivar olhares interessantes, que extrapolaram as críticas ao entretenimento. Nesse sentido, também foi política a apresentação de Alicia Keys, que convidou a líder indígena Sonia Guajajara para fazer um discurso no palco contra a exploração mineral na Amazônia, e ainda dividiu outra vez o brilho e o alcance de sua visibilidade internacional com os brasileiros do Dream Team do Passinho.

Fergie também acertou ao compartilhar o palco e o rebolado com Pabllo Vittar, levando o público ao delírio. No entanto, a motivação da cantora pareceu menos legítima que a de Alicia Keys, já que ela foi criticada por ter apelado para a “terceirização para tentar a aprovação da multidão no dia mais concorrido do Rock in Rio”. Mas, ainda assim, foi aclamada por cantar o hit ‘Sua Cara’.

Contudo, o que parecia ser hit mesmo era Pabllo Vittar, que já tinha provocado histeria na plateia no primeiro dia do festival, em um pocket show com muita elasticidade e bateção de cabelo. O dueto com Fergie no Palco Mundo soou como um avanço importante dentro de uma trilha midiática recém construída; e o comentário de Fábio Assunção, por mais insipiente que possa parecer, reforça esse lugar com relação a sua trajetória da fama.

Além de Pabllo, a importância do movimento LGBT foi afirmada em outras apresentações do mesmo final de semana, considerado o melhor pela revista Rolling Stone por causa do show de Johnny Hooker, que promoveu um beijaço em prol da representatividade junto com seu convidado, Liniker.

Se observarmos como o primeiro bloco de apresentações do RiR entoou temas atuais e debates urgentes, podemos compreender que o segundo final de semana de shows mais aguçou a nostalgia e a memória, a partir de uma conexão com um passado musical personificado por nomes como Bon Jovi, Axl Rose, Steven Tyler, Roger Daltrey e bandas majoritariamente masculinas.

Axl Rose, Bon Jovi e Anthony Kiedi. Fotos: Reprodução.

Um fim de semana “por um mundo melhor”, outro pelo velho rock. A organização do evento parece ter delimitado duas programações para o Rock in Rio 2017.

Fernanda Medeiros
Doutoranda do PPGCOM-UFMG



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