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Patinetes: micromobilidade e “microssoluções”

As patinetes elétricas compartilhadas foram apresentadas como solução para mobilidade urbana em grandes cidades. Mas, além de serem um serviço caro e utilizado mais para lazer do que para transporte, são protagonistas em acidentes.

Entre 2018 e 2019, a febre das patinetes elétricas compartilhadas explodiu em cidades do Brasil e do mundo. Grandes cidades costumam ter enormes filas e trânsitos caóticos pela predominância de automóveis individuais, principalmente carros. A promessa dessas novas alternativas de micromobilidade, como bicicletas e patinetes, era economizar tempo e dinheiro.

O conceito “micromobilidade” é muito recente — usado pela primeira vez por um empresário do ramo de tecnologia em 2017 —  e propõe que distâncias curtas sejam percorridas com veículos menores. Sendo assim, muitas empresas e startups entraram no ramo da micromobilidade apostando na (atual, mas nem tanto) economia compartilhada.

Esse modelo de economia é baseado em pagar pelos serviços, não em possuir bens. Com todos os seus prós e contras, a economia compartilhada cresce cada vez mais, nas mais variadas áreas e tipos de serviços. Mas, concretamente, os serviços de aluguel de patinetes e bicicletas compartilhadas não têm se mostrado a melhor solução para os problemas na mobilidade urbana.

Se a ideia era economizar dinheiro,  ao menos no Brasil  os serviços têm custado muito caro.  E no que se refere à  segurança, as patinetes não dão exemplo. O serviço contratado por meio de aplicativos não dá garantia total de que o usuário tenha 18 anos ou mais — o que contribui para que crianças e adolescentes utilizem o equipamento, correndo riscos de sofrer acidentes. Além disso, freios que não funcionam e o alto atrito e impacto das rodas que  não se adaptam às estradas. No Brasil e em países como Alemanha, Estados Unidos e França, existem projetos de lei ou regras que buscam regulamentar o uso dos equipamentos visando a segurança dos usuários e, principalmente, pedestres, que muitas vezes são atropelados pelos próprios usuários.

Um dos maiores incentivos ao uso de patinetes elétricas é o fato de serem um meio de transporte sustentável. É importante lembrar que a duração média dos equipamentos em uso nas vias públicas gira em torno de quatro meses — vida útil muito menor que a das bicicletas. A estrutura das patinetes dura menos que suas baterias de lítio, que duram entre três e cinco anos e podem emitir mais de 100 gases tóxicos;  se não forem cuidadosamente descartadas, podem causar danos graves ao meio ambiente e ao ser humano. Logo, nem toda economia compartilhada é tão inclinada assim à sustentabilidade.

Apesar dos contextos e adaptações distintas em cada metrópole, a febre das patinetes parece ter baixado. Deixou de ser uma novidade, logo a busca pelo uso diminuiu consideravelmente. O que resta são os vestígios da explosão de meses atrás: centenas e milhares de patinetes espalhados pelas ruas do Brasil e do mundo — virando entulho.

Essas e outras soluções que nos apresentam vêm, muitas vezes, só para “tapar buracos”. O poder público deveria se atentar ao planejamento urbano e investir em meios de transporte coletivos, para reduzir o número de automóveis individuais em circulação. As patinetes e bicicletas são apenas microssoluções para um problema complexo que é a mobilidade urbana. E podem se tornar muito caros para a sociedade.

Kauane Lahr, estudante de Graduação em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista de Iniciação Científica/CNPq.



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