Diário da Copa: Um histórico vexame. Um “óbvio” culpado. Um acontecimento do futebol que entra para os anais do esporte. O professor da UEMG, Rodrigo Portari, traz uma interessante análise das capas de jornais que retrataram a derrota brasileira para a seleção alemã por 7×1.
A Seleção Brasileira de futebol foi eliminada nas semi-finais da Copa do Mundo de 2014 após ser goleada por 7 x 1 pela equipe da Alemanha em pleno Mineirão, em Belo Horizonte. O fato da seleção perder, certamente, não causaria tamanho estranhamento não fosse o placar elástico que, no jargão do futebol, é uma verdadeira goleada. Mais do que depressa, mesmo antes da partida ter o seu apito final, começaram as mais diversas manifestações na mídia sobre o que se passava e, principalmente, a necessidade de se apontar um “culpado” pela derrota. Essa tônica se confirmou no dia seguinte, dia 9 de julho, nas capas de jornais por todo o país.
Vergonha, vexame e humilhação
Essas foram as principais palavras para descrever o sentimento dos torcedores pelos jornais impressos um dia após a fatídica eliminação e do sepultamento do sonho do sexto título mundial para o Brasil. Essas três palavras estamparam a capa do jornal O Globo (RJ), assim como apareceram em chamadas e linhas finas de jornais como o Meia Hora de Notícias (RJ); Super Notícia (MG), Folha de S.Paulo (SP); Diário de Santa Catarina (SC); Diário de São Paulo (SP) O Dia (RJ); A Tarde (BA) e Extra (SP). O discurso midiático reforça as manifestações observadas em redes sociais durante e após o jogo: o sentimento de vergonha por ser goleado jogando “em casa” e com a torcida a favor.
Personalização da culpa
Como em todo acontecimento que provoca estranhamento no mundo dos esportes, há a necessidade de se personalizar a culpa. Na Copa de 1950, quando os torcedores viveram a derrota para o Uruguai na partida final no episódio conhecido como “Maracanazzo”, atribuiu-se a derrota ao goleiro Barbosa. Durante 64 anos, sempre que se falava em Copa do Mundo no Brasil, lembrava-se a derrota diante dos 173 mil espectadores e das falhas do goleiro. Em 2014, não, no que já tem sido chamado “Mineiraço”, rapidamente buscou-se a personalização da culpa pela derrota.
Desta vez, ao contrário de 1950, a culpa não foi atribuída a um atleta ou à equipe, mas ao técnico da seleção, Luís Felipe Scolari. Talvez pelo fato de seu comportamento agressivo em entrevistas coletivas dias antes, quando mandou “pro inferno” aqueles que não concordavam com suas escalações. Torcedores e, posteriormente a mídia, reforçaram o discurso de que o fiasco não foi da equipe, da coletividade, mas sim de seu “cérebro”, o treinador que teria a função de armar taticamente e selecionar os jogadores que melhor pudessem garantir o resultado positivo para o Brasil.
A mídia impressa, em suas capas, reforça o discurso da “personalização” da culpa e pedem a demissão do técnico como uma forma de “compensar” a derrota sofrida, e isenta a culpa de um ou outro jogador em específica.
Considerações finais
O acontecimento da eliminação do Brasil da Copa do Mundo foi visto como uma “tragédia” tanto por torcedores como pela mídia em geral. As primeiras páginas de importantes jornais brasileiros reforçaram esse aspecto e se aproximam do emocional em suas manchetes e demais textos nas capas. Assim, sentimentos como “vergonha” ou “humilhação” foram transformados em imagens e reforçados no discurso verbal, ao mesmo tempo em que atribuem a uma única pessoa toda a culpa pelo fracasso do jogo no Mineirão, reforçando o coro de milhões de torcedores, como se observou em redes sociais mesmo durante o desenrolar da partida.
Rodrigo Portari
Doutor em Comunicação Social pela UFMG; Professor da Universidade Estadual de Minas Gerais – UEMG
Sus concentraciones en el feto y en el recién nacido son las mismas que en la madre.