A Guerra Civil da Síria entrou no sexto ano com um saldo de mais de 400 mil mortos e 4,5 milhões de pessoas deslocadas, segundo a ONU. Nos últimos dias, uma série de ataques vem aquecendo as discussões sobre questões humanitárias, domínio bélico e disputa entre potências mundiais.
No dia 04 de abril, um ataque aéreo com o gás tóxico sarin em Khan Sheikhoun – cidade da província de Idlib – deixou 86 mortos, incluindo 27 crianças, de acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos. A ação foi atribuída a aviões do Governo de Bashar al-Assad, embora o regime sírio venha negando o uso de armas químicas na guerra.
Como resposta, dois dias depois, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, autorizou o lançamento de 59 mísseis que atingiram a base militar aérea de Shayrat, no norte do país. A postura de Trump foi encarada, em um primeiro momento, como incoerente, pois dias antes a Casa Branca rejeitou a opção de ataque às forças militares do país por reconhecer em al-Assad um aliado importante na guerra ao terror. Porém, segundo especialistas no contexto internacional, o bombardeio de Trump representa uma tomada de postura acerca da Guerra Civil da Síria e também possibilita uma entrada em conflito contra a principal apoiadora do regime de al-Assad, a Rússia. O presidente russo acusou os Estados Unidos de agressão a um Estado soberano, baseado “em pretextos inventados”, pois os ataques sírios teriam atingido um depósito de armas de insurgentes e não civis.
Tanto o ataque sírio como o americano geram posicionamentos de vários países e organizações internacionais que defendem os Direitos Humanos. A ONU, por exemplo, declarou que a guerra na Síria tem demonstrado que o direito internacional humanitário tem sido violado constantemente.
Com esse cenário, o mundo se encontra mais uma vez dividido, assim como no período da Guerra Fria, em que estão novamente Estados Unidos e Rússia duelando pela supremacia bélica mundial.
Mas o que mais causa repúdio nessa guerra que está dizimando a população síria, é saber que países que se dizem democráticos e defensores dos direitos humanos se posicionem a favor de intervenções militares internacionais e da “resposta” de Trump, em particular, como saída para solucionar os conflitos e a crise humanitária.
Os acontecimentos atuais já são reverberações de outros que ocupam o noticiário internacional há 6 anos sobre a Síria, e que nos fazem perceber que a guerra civil tem funcionado como um espaço de disputas políticas entre grandes potências mundiais, com o apoio ou a conivência de lideranças regionais do Oriente Médio. Nesse cenário já fragmentado e fragilizado, a presença de grupos radicais, como o Estado Islâmico, dá contornos ainda mais dramáticos à situação.
Porém, com toda essa polarização, um questionamento se faz necessário e urgente: quem está a favor do povo sírio?
A população vem dependendo de ajuda humanitária e também das manifestações políticas de países que se dizem contrários e horrorizados com a violência praticada por al-Assad e pelos grupos radicais, mas que, contraditoriamente, fecham suas portas para os refugiados que tentam reconstruir suas vidas em solo estrangeiro.
Lívia Barroso
Doutoranda do PPGCOM/UFMG
Pesquisadora do GRIS
Carolina Cavalcanti
Doutoranda do PPGCOM/UFPE