Análise | Diário da Quarentena Internacional

A vida pós-confinamento na França: é possível um retorno à normalidade no curto prazo?

O prazer de reencontrar os amigos e de tomar um café nas terrasses de Paris se mistura à estranheza de andar de máscara e à proibição de aglomerações de mais de dez pessoas.

Às margens do rio Senna, em Paris

Após dois meses de confinamento total, a França e outros países da Europa, como a Itália e a Espanha, começaram gradualmente a retomar suas atividades em maio. Na França, a abertura de alguns museus e das famosas “terrasses” de bares, cafés e restaurantes ao público no último dia 2 de junho, entre outros, oficializou a entrada do país na segunda fase do desconfinamento. Mas se a retomada desse hábito tipicamente francês dá a sensação de um retorno à vida normal, a necessidade do distanciamento social, o noticiário nacional e internacional e a ausência de datas para abertura das fronteiras mostram que a ameaça da pandemia ainda está longe de ir embora.

Desde que começou a se alastrar, a Covid-19 tem posto à prova os governantes de diversos países, que se veem diante do desafio de controlar uma das piores crises sanitárias já enfrentadas e de resguardar suas populações dos efeitos de uma recessão econômica inevitável. Epicentro da epidemia nos últimos meses, a Europa se viu obrigada a adotar uma série de medidas restritivas que impactam fortemente sua economia, que tem no turismo e na cultura dois de seus seus pilares. Embora arriscada de um ponto de vista sanitário, a retomada gradativa das atividades se apresenta, portanto, como um imperativo econômico incontornável e, até agora, tem sido bem-sucedida. A prova é que no dia 5 de junho, o médico e presidente do Conselho Científico, Jean-François Delfraissy, afirmou pela primeira vez que a epidemia estava sob controle na França e, inclusive,defendeu uma flexibilização das regras sanitárias. Isso não quer dizer que o vírus não está mais presente em solo francês, mas que ele circula numa velocidade lenta.

Claro que a retomada progressiva de hábitos que haviam ficado para trás, como a frequentação das “terrasses” ou das reuniões familiares e de amigos causa certa estranheza para quem seguiu à risca o confinamento. Sair pelas ruas e ver bares cheios traz uma agradável sensação de que o pior já passou e de que as coisas tendem a melhorar daqui em diante. Ao mesmo tempo, ver as pessoas sem máscaras e sem necessariamente manter a distância de segurança causa certo mal-estar, visto que uma segunda onda de contaminação no outono não está completamente descartada. De todo modo, o que já ficou claro é que os dois meses de confinamento restrito foram fundamentais para que possamos, agora, aos poucos retomar nossos velhos hábitos e buscar entender o que será esse “novo normal” pós pandemia.

Diante de uma longínqua melhora da situação no Brasil, que ainda atravessa a fase crítica da epidemia, e da progressiva abertura da França e da Europa em geral ao seu ritmo normal, vemos muitos de nossos projetos pessoais e profissionais para este ano serem adiados ou reprogramados sem saber realmente em que momento eles poderão ser retomados. A saudade da família e dos amigos se transforma em angústia diante da incerteza sobre quando poderemos revê-los. No aguardo de previsões mais precisas, a solução é literalmente aprender a viver um dia de cada vez, fazer planos no curto prazo e encarar o desconfinamento como mais uma etapa que coloca à prova nossa capacidade de agir coletivamente.

Camila Cesar, professora substituta na Université de Lorraine. Doutora em Ciências da Informação e da Comunicação pela Université Sorbonne Nouvelle Paris 3 e pela UFRGS
Camila Salles, doutoranda e mestre em Ciências da Informação e da Comunicação pela Université Sorbonne Nouvelle Paris 3



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