Análise | Esportes Gênero e sexualidade

Às mulheres que narraram a Copa: para guardar na mente, no peito e na alma

A estreia da Copa do Mundo Fifa 2018 na Rússia, em 16 de junho de 2018, apresentou a primeira partida – e o primeiro gol – na Copa narrado por uma mulher na televisão brasileira. Isabelly Morais, que já fez história sendo a primeira narradora de futebol masculino da rádio mineira, conduziu o telespectador do canal FOX Sports 2 durante os cinco gols que a seleção da Rússia fez na Arábia Saudita. Além da mineira, o projeto Narra Quem Sabe selecionou ainda Manuela Avena e Renata Silveira dentre 300 candidatas para compor a equipe majoritariamente feminina que narrou 25 dos 64 jogos no canal fechado. Destes, nove partidas tiveram narração, comentários e análises de arbitragem feitos exclusivamente por mulheres.

Iniciativa aplaudida nacionalmente, o Narra Quem Sabe também teve repercussão negativa na imprensa. Em fevereiro, quando o projeto foi anunciado, a produtora BluemoonKN foi criticada por uma postagem no Facebook em que se colocava como parceira da FOX no processo seletivo das narradoras e pedia fotos de corpo inteiro das candidatas. À época, a emissora disse que ainda não tinha fechado contrato com nenhuma agência. Já a BluemoonKN, quando questionada, justificou que as imagens seriam usadas para garantir a diversidade de pessoas no processo seletivo.

Outro percalço foram os números de telespectadores, pois a decisão da emissora de transmitir a mesma partida em dois canais ao mesmo tempo resultou no FOX Sports 2 ficando com a menor audiência da TV. Os comentários da análise do portal Dibradoras apontam que a ideia ainda não foi bem recebida, seja pela pouca experiência das jornalistas ou por um preconceito que afastou o público de sequer tentar acompanhar a novidade. No imaginário machista que permeia o mundo do futebol,  voz feminina ainda é vista como “taquara rachada” e “gritaria” por muitos. Mesmo apresentadoras e repórteres esportivas já conhecidas pelo público, como Renata Fan, Fernanda Gentil e Fátima Bernardes, ainda são mais lembradas pela beleza  e atributos físicos do que pela competência profissional, domínio do assunto e/ou tradição no cargo, como acontece com os homens. . (Em 2002, Fátima foi eleita a “musa da copa”; neste ano, Gentil escutou do colega Roger algo como “aí você pode entrar no comentário, Fernanda… Já fez balé?”, respondendo “não” e seguindo com a transmissão).

Por outro lado, como repercussão positiva do acontecimento,  pode-se destacar a entrevista que o jornal italiano Corriere dello Sport fez com Isabelly, chamada “Um golaço histórico na Copa do Mundo”. Blogs de publicidade como o Adnews e o B9, por exemplo, exaltaram o vídeo da campanha de divulgação do projeto protagonizado por uma menina. Em entrevista ao Dibradoras, a jornalista e mentora do projeto Vanessa Riche afirmou que a equipe recebeu mais elogios do que críticas. Por outro lado, ela não consegue garantir a continuidade do projeto na emissora, mesmo que acredite que o movimento de abertura a mulheres narradoras vá acontecer naturalmente.

Os canais ESPN e Esporte Interativo confirmaram, neste ano, mulheres contratadas para a narração: respectivamente Luciana Mariano e Vivi Falconi – esta ganhou o concurso “A Narradora Lay’s” e foi a primeira mulher a narrar uma semifinal de Champions League in loco. É curioso pensar que essa inclusão de narradoras do sexo feminino nas emissoras tenha acontecido só agora, 63 anos depois da primeira transmissão de uma partida de futebol pela TV. É, sem dúvidas, um avanço, mas que  segue fora da televisão aberta, ainda com equipes de apoio majoritariamente masculinas. Também falta respeito às repórteres (lembrando o exemplo do caso de assédio à Júlia Guimarães) e espaço para comentaristas e analistas de arbitragem do sexo feminino. Como diria a campanha protagonizada por jornalistas esportivas antes da Copa, “Deixa ela trabalhar”.

 

Petra Fantini

Bacharel em Comunicação Social pela UFMG, repórter do jornal O Beltrano



Comentários

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