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Oi oi ô: vale a pena ver de novo a ascensão da classe C na TV

A reprise de Avenida Brasil é uma aposta alta da Globo para tentar elevar a audiência de sua programação vespertina: a emissora não quis arriscar a perder os bons índices de audiência deixados por “Por Amor” e resolveu colocar no ar novamente a sua novela de maior sucesso na década de 2010.


A disputa de poder era constante entre Nina e Carminha, as duas principais personagens da novela. Foto: Reprodução.

Avenida Brasil já foi vendida para mais de 150 países, exibida em 106 e dublada em 14 línguas. Faturou R$2 bilhões, só no Brasil, durante a primeira exibição dos seus 179 capítulos em 2012 e foi indicada ao Emmy Internacional de melhor novela em 2013. E agora a trama de Nina (Débora Falabella), Carminha (Adriana Esteves), Max (Marcelo Novais) e Tufão (Murilo Benício) está de volta.

Até o anúncio, no dia 14 de setembro, de que a Globo iria substituir “Por Amor” por “Avenida Brasil”, era unânime na “bolsa de apostas” entre os comentaristas de TV que a escolha seria por “Eta Mundo Bom!” :  uma história leve, exibida na faixa das 18 horas (como 40% das novelas reprisadas) e com bom retorno de audiência. Mas a Globo não quis correr riscos e apostou no que considera a melhor novela que produziu na década de 2010, tanto no faturamento quanto na interação com o público.  Certamente a emissora fez a escolha certa, já que horas após a divulgação da novidade, a hashtag #AvenidaBrasil atingiu mais de 30 mil tweets e milhares de memes pipocaram na internet.

Contudo, é bom não se esquecer que quando foi ao ar pela primeira vez, em 2012, a situação econômica e social brasileira era bem diferente da atual. Naquela época o percentual de desemprego no Brasil era de 4,6%, o menor nível registrado pelo IBGE em toda a sua história. Em 2019, esse mesmo índice está em 12,3%. Também nesses sete anos, a pobreza cresceu 4% e a extrema pobreza 13%, de acordo com o mesmo instituto. A “nova classe média” também experimentou queda de 8% entre 2016 e 2017, caindo de 57% para 49% da população. Atualmente, esse índice está em 51%.

Todos esses dados censitários são importantes e têm uma relação direta com o efeito que Avenida Brasil pode provocar em sua audiência: afinal as classes mais baixas – principalmente a classe C – foram as grandes protagonistas da novela. Avenida Brasil foi um sucesso exatamente porque trabalhou sua história, mostrando o quanto a classe média é trabalhadora e tem valores, como família e amizade, mais importantes do que o dinheiro.

Ao mesmo tempo, o público e as formas de recepção, especialmente, também mudaram. Com a expansão e o amadurecimento das mídias sociais (que, em 2012, ainda não tinham tanta abrangência), podemos perceber que outros valores sociais estão em circulação atualmente, como, por exemplo, visibilidade e reputação.

Nesse contexto, a volta de Avenida Brasil aquece também a expectativa sobre formas de identificação e projeção da audiência, que, de alguma maneira, revelam a dinâmica social do nosso tempo. Será mesmo que a classe média brasileira de hoje se reconhecerá na “realidade” de Tufão, Carminha ou Monalisa de 2012?

Gilvan F. Araújo, doutor em Comunicação pela UFMG e professor do Centro Universitário Promove de BH e na Escola de Saúde Pública de MG.

Fernanda Medeiros, doutoranda em Comunicação pela UFMG e pesquisadora do Gris



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