Análise | Celebridades e Figuras Públicas Gênero e sexualidade

Precisamos falar sobre Biel. De novo.

O cantor Biel vira notícia mais uma vez. A carreira foi interrompida há dois anos (mesmo com uma ameaça de retorno em um vídeo motivacional constrangedor ano passado). Mas, agressões machistas renderam novas manchetes. Precisamos falar sobre isso. De novo.

Foto: Reprodução/YouTube/Biel.

Biel tem 22 anos, um álbum lançado, 16 músicas. E quase 7 milhões de seguidores no Instagram. Porém, dois grandes acontecimentos marcaram sua trajetória profissional. No GrisLab, já falamos deles. Biel disse que “quebraria” uma jornalista ao meio, fazendo alusão a atividades sexuais, e, logo após, anunciou o fim da carreira por causa da repercussão negativa. Agora, um novo acontecimento surge: Biel agrediu e foi agredido pela companheira, durante uma discussão nos EUA, se ferindo no rosto por um copo de vidro arremessado por ela.

A companheira, Eduarda Castro (@thedudacastro, 1 milhão de seguidores no Instagram), foi à TV brasileira, no dia 23 de abril, denunciar o agora ex por agressão física, moral e sexual que se estendeu durante meses. Morando nos EUA, o casal brasileiro parecia ir bem. Fotos no Instagram mostraram doses altas de ostentação: carros, casas, paisagens, baladas. Tudo sustentado por Eduarda, que é modelo. Enquanto isso, Biel dava uma pausa na carreira.

Do acontecimento “Biel bateu na namorada”, acompanhamos reverberações das mais diversas, principalmente na internet. No dia número um, Duda Castro vai ao Leo Dias (programa de fofocas do SBT) expor toda a situação, e o assunto vira capa no G1. No dia número dois, Biel faz “stories” no Instagram e expõe seu lado com um vídeo gravado no momento da briga. Algumas narrativas produzidas na mídia acionaram o velho padrão de “mulher histérica”, que enlouquece e perde o controle, na tentativa de desqualificar Duda e questionar seu testemunho.

Em meio a tudo isso, seus fãs (sim, eles existem apesar de tudo) mostram apoio incondicional “ao cara que ele é” – o que é bem contraditório – enquanto uma chuva de pessoas, de mulheres em sua maioria, se posiciona contra o comportamento repetido.

O novo acontecimento convocou outros. Os sentidos desencadeados são bem parecidos com os dos eventos anteriores envolvendo o cantor.  Biel se mostra o mesmo, pondo em prática valores machistas que a sociedade carrega.

Como agora o repertório “Biel machista” já existe, buscamos em acontecimentos anteriores entender as atitudes recentes. A normalidade parece ser reestabelecida, e no whatsapp, cheio de mensagens como “você viu o que o Biel fez?”, recebe-se as respostas “eu vi, mas é o Biel, né?”.

Sim, “é o Biel”, mas é só o Biel mesmo? Podemos dizer que machistas não passarão, só que eles têm passado. Parece que o assunto Biel já deu o que tinha que dar, mas, enquanto comportamentos assim se repetem, é necessário falar.

Uma rápida pesquisa nas últimas fotos do Instagram do cantor e da modelo mostra uma dezena perfis de meninas jovens apoiando Biel. A vítima ainda é culpabilizada nos casos de violência doméstica, e o cantor de 22 anos ainda é visto como um moleque inconsequente que, do discurso de que quebraria alguém em 2016, evoluiu para a agressão física de fato em 2018.

Em um país com números de violência contra a mulher assustadores, o cantor parece ser mais um homem “perfeitamente inserido em uma sociedade que não dá o menor valor às vidas das mulheres”.

Então, enquanto for preciso, enquanto o machismo dele e de tantos outros persistir, ainda vamos falar de Biel.

Eduarda Rodrigues
Mestranda em Comunicação Social pela UFMG e pesquisadora do GrisLab



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