Tecnologia

Uber e a “invasão” dos aplicativos

A polêmica entre Uber e táxi revela uma nova ideia de negócio que relaciona o uso de smartphones com as necessidades das pessoas. Propõe-se, então, problematizar os limites que essa concepção está alcançando, expondo a precarização de serviços já disponíveis, como é no caso do transporte público das cidades. E, ao mesmo tempo, ocultando uma face de abusos internos. 

A controvérsia entre táxi e Uber ganha novos capítulos todos os dias. O polêmico serviço de transporte é destaque em diferentes cidades do mundo que vão desde Londres, Paris, São Paulo, Rio de Janeiro até Belo Horizonte. Enquanto os órgãos públicos e os disponibilizadores do serviço não conseguem encontrar um acordo, os motoristas vivem uma verdadeira ‘guerra’ nas ruas. São ameaças, ataques físicos, desrespeitos e outros tantos casos de intolerância que podem ser acompanhados nos noticiários. Aqui, por outro lado, não pretende-se convencer ninguém sobre qual das duas opções são boas. O que nos chama a atenção, dentro dessa polêmica, é como as diferentes formas de uso para aplicativos de smartphones está afetando e gerando consequências para os vários atores das esferas da vida social. Nesse contexto, o Uber é só um dos exemplos de app’s que prometem mudar o jeito como consumimos.

As possibilidades são várias. São aplicativos que propõem desde melhores opções de rotas para fugir de congestionamentos (Waze), até indicação de pessoas para limpar a casa (Helpling), ou mesmo, para aqueles mais abastardos que precisarem arrumar um jatinho de última hora (JetSmater). É tudo ali, na ponta do dedo, com um simples toque. É uma ideia irresistível para uma sociedade cada vez mais dependente da internet e suas ferramentas tecnológicas.

E, com isso, consequentemente, cria-se uma divisão entre aqueles que acreditam na “revolução dos aplicativos” e aqueles que não querem perder tudo que já foi garantido até então.

No caso do Uber, na fala de seus criadores, fica exposto o fato de que o aplicativo não se trata apenas de uma ferramenta “inocente”. Ele pode representar um dos objetivos empresariais desses desenvolvedores de app’s que procuram o ideal de livre-mercado, que pode ser visto como interessante para alguns e problemático para outros e também sobre a qual pesa diversas acusações (como práticas desleais, descumprimento de leis trabalhistas, dificultar a ação da polícia num caso de abuso sexual praticado por um de seus motoristas e perseguir uma jornalista crítica à empresa – ver mais em matéria da Agência Pública).

Enfim, o Uber é um exemplo de ‘rediscussão das formas tradicionais’, ou seja, aplicativos como ele já existem e caíram no gosto das pessoas. Resta saber se alguém será capaz de detê-los ou se eles cumprirão a promessa de tornarem melhor a vida dos usuários para além da praticidade já proposta.

Isabela Meireles
Jornalista e Bacharel em Comunicação Social pela UFMG

Esta análise foi produzida a partir da identificação do tema pelo monitoramento da mídia de referência, feito pelo Radar. O tema também foi sugerido pelo leitor Eduardo Henrique Rodrigues de Oliveira por meio da seção Participe.