Em um período marcado pela nomeação de um ministro “terrivelmente evangélico” e pelo empurrão sofrido pelo padre Marcelo Rossi, relembramos aqui um episódio que também envolve religião e celebridade: a foto polêmica do chef de cozinha Henrique Fogaça e duas freiras no Vaticano.
No final do mês de junho, o nome de Henrique Fogaça, chef de cozinha, empresário e um dos jurados do programa de TV MasterChef Brasil, transmitido pela emissora Band, tomou conta das redes sociais. E o motivo não foi a avaliação rude de um candidato do reality show culinário, mas uma polêmica que começou do outro lado do oceano, mais especificamente em Roma.
Fogaça estava de férias na Itália e achou que seria engraçado visitar o Vaticano com uma camiseta estampada com duas freiras se beijando. O caldo engrossou quando o chef publicou em seu perfil no Instagram – que possui cerca de 2,5 milhões de seguidores – uma foto com duas freiras brasileiras, que o reconheceram e foram falar com ele, que vestia a camiseta que escolheu como look do dia. A foto foi postada seguida de hashtags como #blasfêmia #ochoroélivre e #fuckhipocrisia.
O caos se instaurou em poucos minutos. A internet não perdoou Fogaça e milhares de internautas publicaram xingamentos e reflexões sobre a atitude do chef, lida pela maioria absoluta dos revoltados como desrespeitosa. Fogaça apagou a foto, em seguida postou novamente e, logo depois, voltou a apagar. A situação já era incontrolável e tinha tomado uma dimensão absurda. Em meio ao fogo cruzado, o chef também não teve muito jogo de cintura e publicou uma série de vídeos com tons variados, indo desde uma fala debochando da repercussão a um pedido de desculpas seguido da justificativa de que é uma “pessoa de bem” e não fez por mal.
O arrependimento veio tarde e o tribunal da internet já havia condenado Fogaça. Até o padre Fábio de Melo, conhecido pelos posicionamentos que fogem do tradicional, publicou um tweet sobre o assunto: “Usar a imagem de duas pessoas que lhe dedicaram gentileza, expondo-as ao ridículo, colocando-as como coadjuvantes de seu protesto, está longe de ser uma atitude de “pessoa do bem”.” O post teve mais de 50 mil curtidas e 7 mil compartilhamentos.
A exclusão e preconceito pregados pela igreja católica ao longo dos anos deixaram marcas de sofrimento que ainda não cicatrizaram. Não é incomum ver pessoas da comunidade LGBTQ+ queixando-se da segregação sofrida nas igrejas – que, no entanto, dizem ter no amor (ao próximo e a si próprio) seu mandamento mais forte. No fundo, é possível entender o protesto de Fogaça.
Em todo caso, Fogaça pode ter pecado pelo excesso. Combater situações de injustiça usando as armas desrespeitosas do opressor não é um bom caminho para a verdade e a vida.
Barbara Lima
Mestranda em Comunicação Social pela UFMG e pesquisadora do Gris