Análise | Questões socioambientais

A natureza também acontece

Os acontecimentos da natureza nos tocam de diversas formas. A floração dos ipês em Belo Horizonte mobiliza os olhares de milhares de pessoas e traz um colorido diferente à vida dos mineiros. A capital, que tem a árvore como símbolo, traz em sua história o apelido de cidade jardim e se alegra com a chegada dessa época.

Foto: Maíra Lobato/Acervo Pessoal

Os acontecimentos do mundo nos afetam de muitas maneiras. Alguns nos afetam fisicamente, outros emocionalmente, outros ainda socialmente. O fato é que estamos sempre cercados de acontecimentos que vão nos instigando a interpretar e compreender as coisas ao nosso redor.

Esses acontecimentos podem ser no âmbito da política, ou no cotidiano, na vida coletiva, podem ainda ser nacionais, internacionais, alguns são esperados, outros nos surpreendem etc. Dentre os acontecimentos que nos cercam, os relacionados à natureza sempre afetaram de maneira especial a vida das pessoas. A natureza também acontece todo o tempo. A chegada das chuvas, o frio do inverno que aumenta, a época da seca, um pôr do sol no verão, todos estes são acontecimentos que afetam diretamente nossas vidas e se colocam na pauta do dia.

A floração dos Ipês, especialmente em Belo Horizonte –  conhecida como a capital dos ipês – é um destes acontecimentos da natureza que nos toca. A cidade inteira é tomada por cores de flores lindas, árvores que perdem todas as suas folhas e ficam cobertas pelos buquês de flores rosas, roxas, amarelas e brancas. Os ipês floridos em BH estampam os jornais e revistas, aparecem corriqueiramente nas redes sociais, mobilizam as pessoas da cidade e viram motivo de festejar. Escutamos as pessoas comentando no ônibus, na fila do banco, no caixa do supermercado. É interessante perceber como este acontecimento suscita interações entre pessoas que talvez não iriam se falar sem essa motivação.

Também é interessante notar como a observação das pessoas é extremamente peculiar. Alguns reparam as flores no chão formando verdadeiros tapetes, outros observam a queda das folhas, outros têm ainda um olhar mais atento e percebem que os ipês de uma determinada cor florescem em uma época e os outros noutra. Primeiro chegam os ipês roxos, que tem esse nome, mas trazem flores de tonalidades que vão do rosa claro ao escuro. Depois florescem os amarelos. E por último, o mais raro deles, o ipê branco. Estes são disputadíssimos, pois suas flores duram de dois a três dias. O sábio olhar de uma criança logo percebe o quão fantástico é este ciclo: “Mamãe, o mundo é muito mágico! Primeiro as árvores estavam cor de rosa, agora ficaram todas amarelas!”    

Há quem saia de casa até determinados pontos da cidade para contemplar as árvores floridas. Algumas praças, que nem são pontos turísticos da cidade, ganham fama e visitantes diariamente. Avenidas inteiras se tornam verdadeiros corredores floridos. É impossível não observá-los. É um acontecimento alegre, que colore a rotina dos belo horizontinos e nos faz lembrar de que mesmo com uma vida tão urbana, a natureza continua acontecendo ao nosso redor.

Maíra Lobato
Mestre pelo PPGCOM-UFMG
Pesquisadora do GRIS



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