O coronavírus tem se espalhado pelo Brasil, e os pequenos municípios do interior estão cada vez mais com suas fragilidades estruturais expostas, seja nos impactos no comércio, seja no sistema de saúde ineficiente.
Viver em uma pequena cidade do interior do Brasil, para a grande maioria, sempre foi sinônimo de tranquilidade, calmaria e de uma possível melhor qualidade de vida. Porém, com a pandemia do coronavírus, muitos dos benefícios da vida em lugares afastados dos grandes centros estão sendo sobrepostos pelo medo e a insegurança, que num momento de crise como este, escancara a fragilidade da infraestrutura destes lugares, sobretudo no que diz respeito ao sistema de saúde.
Até o início do mês de março, o coronavírus, aqui em Rondon do Pará, parecia algo distante e que demoraria muito tempo para chegar, ou nem chegaria, como era suposto por boa parte da população e exposto em programas de rádio. A justificativa estava, exatamente, em ser o município de 52 mil habitantes “isolado” e distante mais de 500 km da capital Belém, foco da pandemia no estado.
A noção da gravidade da pandemia só foi possível duas semanas depois, quando a prefeitura do município decretou o fechamento de instituições de ensino e de grande parte do comércio, ficando em funcionamento apenas farmácias e supermercados. Tal providência só foi tomada devido o aumento de casos da Covid-19 no estado do Pará, e também do vizinho, Maranhão.
Com as medidas de isolamento como forma de combate ao vírus, a vida cotidiana da cidade mudou significativamente. Por exemplo, a feira realizada no mercado público todas às sextas e sábados não está acontecendo há um mês, e o lugar que funciona como um ponto de encontro dos moradores da cidade com os habitantes das comunidades rurais está vazio e sem vida. Além de que, a exposição e comercialização de produtos cultivados nas pequenas propriedades rurais, através da agricultura familiar, não estão acontecendo, o que tem interferido na renda dos pequenos produtores.
Para além das questões referentes ao comércio local, a grande preocupação das autoridades de saúde e por parte da população, está no frágil sistema de saúde do município. Rondon do Pará, assim como a grande maioria dos pequenos e médios municípios do país, não dispõe de uma rede de saúde, seja pública ou privada, eficiente. Por exemplo, é inadmissível, um município com uma população superior a 50 mil habitantes não ter em seus hospitais (são três: um público e dois privados) um único leito de UTI.
Quando estamos vivendo um acontecimento como esse é que várias carências sociais são expostas. Já vivo em Rondon há quase dois anos, e em nenhum momento atentei para a questão da inexistência de UTI. Desde que o primeiro caso da Covid-19 foi confirmado, em 12 de abril, e que a paciente, necessitando de UTI, foi transferida às pressas para um hospital do município vizinho de Paragominas, a 250 km de distância, essa realidade foi evidenciada e despertou sentimentos de pânico e incerteza sobre como serão os próximos dias. “E se eu ou outras pessoas contrairmos o vírus e precisarmos de atendimento hospitalar?” virou a principal questão neste momento, acompanhada de muito medo e revolta pelo quanto somos desassistidos pelo poder público.
Lívia Barroso, professora da Unifesspa e pesquisadora do Gris