Análise | Celebridades e Figuras Públicas

Fábio Assunção, a vergonha dos célebres e zombaria do público

O episódio de prisão do ator da Rede Globo Fábio Assunção foi comentado por muitos e, de alguma forma, marcou a trajetória pública do ator. O que nossa afetação diante desse acontecimento e as consequências dele na vida pública e midiática revelam sobre nós e sobre a sociedade dos célebres?

Imagem: Rede Globo/Divulgação

O ator Fábio Assunção foi detido no final de junho de 2017, depois de se envolver em uma briga em uma festa de São João, em Arcoverde, Pernambuco – onde estava divulgando o documentário “Eu sonho para você ver”. Vídeos circularam nas redes sociais digitais mostrando o ator discutindo com moradores e entrando em uma viatura policial, acompanhado de comentários como: “Olha a situação do drogado da Globo”; “Fábio Assunção passando vergonha”. De dentro da viatura, ele grita para chamar o sargento; diz, ainda, que vai dar um autógrafo para ele, que, com isso, iria liberá-lo. Em nota, a polícia informou que o ator estava agressivo, resistiu à prisão e quebrou o vidro traseiro do carro.

Como refletir sobre esse acontecimento? O que ele revela do contexto social em que vivemos? Três questões nos chamam a atenção ao tentar apreender o poder hermenêutico de tal ocorrência.

A primeira diz respeito ao posicionamento do próprio ator frente à abordagem policial: ao oferecer um autógrafo ao sargento em troca de sua liberdade, Fábio Assunção reitera uma percepção amplamente difundida – ainda que muito questionável – de que as celebridades são seres especiais, que merecem um tratamento diferenciado mesmo quando cometem delitos. Como um ator global receberia o mesmo tratamento dispensado aos demais “mortais”? Em nota divulgada no Instagram, Fábio Assunção lamenta o ocorrido e pede desculpas: “Peço a todos sinceras desculpas. Não é fácil, mas reconhecer meus erros e procurar sempre aprender com eles é o que eu desejo”. Aqui, emerge a face humana da celebridade: que erra, perde o controle, mas tem a humildade de pedir desculpas. Assim, o rosto público do ator oscila entre o célebre e o humano nos posicionamentos que ele assume no acontecimento.

A segunda questão que nos chama a atenção é a gravação e a divulgação da prisão do ator nas redes sociais digitais. Pelos comentários que podemos ouvir nos vídeos, trata-se ali do desejo de exibir a dor e a vergonha de uma celebridade em declínio. O que motiva as pessoas a compartilhar vídeos como esse? A atitude de rir e zombar da desgraça alheia, da face privada e vergonhosa da vida de um célebre alcançando dimensão pública, certamente não é nova em nosso contexto – mas não deixa de nos inquietar.

Por fim, a terceira está ligada aos posicionamentos do público em relação ao acontecimento. Ao buscar apreender parte da repercussão do caso, encontramos pessoas que criticaram a atitude do ator e seu histórico de dependência química, que debocharam de sua embriaguez no vídeo, outras que se solidarizaram com sua dor e se sensibilizaram com seu pedido de desculpas. Encontramos, assim, na repercussão do caso, algumas das disputas simbólicas que se constroem no reconhecimento do lugar de uma celebridade –entre a admiração e a crítica.

Paula Simões
Professora do PPGCOM-UFMG
Coordenadora do GrisLab

Afonso Sepulveda
Doutorando do PPGCOM-UFMG
Pesquisador do GRIS



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