Análise | Questões socioambientais

PERIGO! Mais agrotóxicos estão por vir

Da liberação de produtos extremamente tóxicos à saúde, ao extermínio de abelhas e extinção da biodiversidade: aumento na liberação de agrotóxicos no país ameaça a vida em suas diferentes formas.

Dia Internacional de Luta contra os Agrotóxicos. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil.

Nos últimos três anos, o número de agrotóxicos liberados no Brasil tem aumentado exponencialmente. Estes dados, fornecidos pelo próprio Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), são úteis não só para atestar o crescimento desenfreado dos registros e apontar 2018 e 19 como recorde histórico. Se entre 2005 e 2015 esse número oscilava entre 100 e 200 produtos aprovados por ano, em 2016 subiu para 277; em 2017, para 405; e em 2018, foram 450 agrotóxicos registrados no Brasil. Para 2019, o ritmo segue. O governo de Jair Bolsonaro ainda nem completou o 10º mês e já chegamos a 382 agrotóxicos liberados.

O alerta para diversos riscos sobre os quais podemos até não nos atentar, mas que interferem diretamente na qualidade e até na continuidade da vida, está aceso. Dentre os graves riscos estão liberação de produtos extremamente tóxicos  – como o glifosato, apontado por estudos como responsável por causar câncer –, a contaminação das águas e do solo, a extinção da biodiversidade a partir do envenenamento e empobrecimento nutricional do solo, e o extermínio de abelhas, que tem consequências diretas na produção de alimentos para o consumo humano.

Principalmente depois dos anos 1990, quando o avanço do capitalismo no meio rural culminou na conformação do agronegócio, os agrotóxicos contaminam a agricultura brasileira em ritmo crescente. Desde a Constituição de 1988, a regulação dos agrotóxicos é frágil, mas sobretudo nos últimos três anos, este aumento vem perdendo qualquer tipo de freio e ameaçando a vida de diferentes formas.

Foto: Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida

De acordo com levantamento realizado no primeiro semestre deste ano pela Agência Pública e Repórter Brasil, em apenas três meses, 500 milhões de abelhas foram encontradas mortas nos estados do Rio Grande do Sul (400 milhões), Santa Catarina (50 milhões), Mato Grosso do Sul (45 milhões) e São Paulo (7 milhões). Os efeitos dessa quebra no ciclo produtivo para o ecossistema só serão sentidos nos próximos anos, mas os trabalhadores assalariados do campo já sentem os efeitos do uso dos agrotóxicos na saúde. 

As abelhas são fundamentais para a existência de alimentos para o consumo humano. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), 75% dos cultivos destinados à alimentação humana no mundo dependem das abelhas e de outros insetos e animais, que, de flor em flor, promovem a polinização das plantas, o que garante a reprodução das mesmas e a consequente produção dos alimentos. 

Foto: Marcelo Cavalcante.

A legalização massiva de agrotóxicos responde à agenda política e econômica do grupo investidor do Governo Bolsonaro, atrelado ao agronegócio. Só no dia 17 de setembro, foram 63 novos agrotóxicos registrados, sendo sete inéditos no mercado brasileiro. No último dia 3 de outubro, mais 57.  A lista não tem fim, e os resultados do suposto aumento na produção não chegam na mesa do povo brasileiro, nem pela diversidade alimentar (estima-se que 70% da comida que chega à mesa dos brasileiros venha da agricultura familiar) , nem pelos lucros, que não são reinvestidos nos territórios

O arsenal de armas químicas que se instalou na agricultura no pós 2ª Guerra Mundial tende a seguir disputando o modelo de produção no campo brasileiro a partir da concentração de terras, exploração da mão de obra e do solo. Os riscos tendem a crescer. O glifosato já vem sendo substituído por um composto do Agente Laranja usado na Guerra do Vietnã, por exemplo. 

Enquanto você lê este texto, inclusive, pode estar ocorrendo mais uma negociação silenciosa para a liberação de outros agrotóxicos no país. Mais curioso é que o nome é autoexplicativo. Agro-tóxico. É tóxico. Mata agora e ameaça a vida no futuro.

Agatha Azevedo, mestranda em Comunicação/UFMG e pesquisadora do EME – Grupo de Pesquisa em Mídia e Esfera Pública/UFMG

Cecília Bizerra Sousa, ddoutoranda em Comunicação/UFMG e pesquisadora do Gris/UFMG



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