Rodrigo Hilbert. Nos comerciais, no canal GNT, nos temas das comédias e das conversas cotidianas: lá está ele, reverberando uma imagem exemplar de profissional, marido e pai. Deslizes (como imitar de forma caricata apenas sotaques nordestinos tendo viajado por todo o Brasil; ou fazer um polêmico sacrifício animal ao vivo) apenas arranham a reputação do “homão da porra”, termo que tem sido usado para designar Hilbert.
Bonito, bom na cozinha (tem seu programa culinário, o Tempero de Família) e bem sucedido, ele causa inveja a ponto de motivar indignação masculina – com uma boa dose de humor. Após divulgar uma foto em seu Facebook mostrando a casa ao pé da árvore construída por ele para seus filhos, recebeu um pedido inusitado: pare. Raphael PH Santos, ganhou visibilidade nas redes sociais e na mídia ao publicar uma carta aberta ao artista pedindo para que ele interrompa a concorrência desleal: “Você está me atrapalhando”.
Ora, ora, ainda que blindados pelos significados ambíguos do riso, nós homens finalmente parecemos diminuídos pela existência de um olimpiano inalcançável. Usamos “finalmente” porque as mulheres lidam com isso há mais tempo: quantas atrizes, cantoras e modelos conciliam família, beleza e uma carreira profissional de fazer inveja?
Mas a principal revelação do “acontecimento Hilbert” não é a perfeição inalcançável aos mortais, e sim o quanto nós homens ainda custamos a assumir o lugar que nos cabe em um mundo diferente daquele de nossos pais e avôs. E é bom lembrar: vivemos em um mundo que não mudou naturalmente; mudou com a luta de muitas de nossas mães e avós por um lugar mais igualitário na sociedade em relação aos homens, com direitos e deveres semelhantes para as mulheres. E continua mudando porque muitas de nossas amigas, irmãs e companheiras continuam a luta.
Nas palavras do próprio Rodrigo Hilbert, “receber elogios pelo fato de você cuidar do seu filho, cuidar da sua casa, dividir as tarefas com sua esposa; eu não aceito esse rótulo de ‘homão da porra’ pelo simples fato de fazer isso. Isso é obrigação de todos os homens, eu acho que é o mínimo que um homem pode fazer”. E ele diz mais. Citando a própria mãe e as tias, que trabalhavam em casa e fora, crava: “temos muito mais ‘mulherões da porra’ do que ‘homens da porra’”.
Hilbert se considera um homem moderno. Interessante: se não é possível ser “homão da porra”, para nós também está em tempo de nos adequarmos ao nosso tempo (com o perdão da redundância). Amigos, melhoremos…
Gáudio Bassoli
Mestre pelo PPGCOM-UFMG
Pesquisador do Gris
Paulo Basílio
Graduando em Publicidade pela PUC Minas
Pesquisador do Gris