No estado, a pandemia deixou mais de 1,7 milhão de alunos das escolas estaduais sem aula. Para amenizar os efeitos da suspensão do ensino, o governo iniciou em maio um Plano de Estudos Tutorado, que vem sendo criticado por educadores e estudantes.
O plano de ensino à distância do governo foi desenvolvido pela Secretaria de Educação e, já no início, apresentou problemas de acesso dos alunos ao material (seja de forma virtual ou física) e também erros graves de conteúdo (plágios, informações erradas, erros ortográficos). Ainda que o governo ostente a marca de mais de 1 milhão de acessos no aplicativo Conexão Escola, isso não significa o real acesso dos alunos, já que muitos professores também baixaram o app. Além disso, em muitas escolas, o aplicativo tem se mostrado pouco eficiente para promover o contato entre professores e estudantes, que preferem, muitas vezes, utilizar outros canais (Whatsapp, Instagram, aplicativos de videoconferência) para se comunicar.
Além de continuarem com os salários parcelados durante a pandemia, os professores estaduais não puderam participar de forma efetiva das discussões sobre o novo modelo de ensino. Informados (e não consultados) sobre o retorno das aulas em regime de teletrabalho, também não receberam nenhum treinamento específico, tendo como subsídio para sua preparação alguns documentos disponibilizados pelo governo e também o acesso à apostila desenvolvida pela Secretaria de Educação (PET), que é base para o ensino remoto, juntamente com aulas transmitidas pela Rede Minas por meio do programa Se Liga na Educação. Além disso, se antes os docentes enfrentavam salas de aula lotadas e pouco equipadas, agora precisam usar recursos próprios (internet, computador, celular) para darem continuidade ao seu trabalho.
Quem vivencia diariamente a sala de aula sabe que as complexidades que envolvem a comunidade escolar não podem ser sanadas apenas pela oferta do ensino à distância. Para entender os impactos do fechamento das 3.601 escolas estaduais, é preciso considerar o ambiente escolar não só como local de aprendizado de conteúdos, como de sociabilidade. Além disso, para muitos alunos, a escola é também a principal garantia de acesso à alimentação e apoio para muitos pais que, para trabalhar, mantêm os filhos em período integral.
Enquanto para os alunos de escolas particulares, provenientes das classes mais altas, as aulas remotas permitem a continuidade de uma rotina de estudos – ainda que distante das condições possibilitadas pelo ensino presencial -, para muitos estudantes das escolas públicas, o EAD representa um fechamento de portas para o acesso à educação. Muitos, porque de fato não têm acesso à internet ou se têm, o acesso é limitado, seja pela conectividade, pela baixa qualidade dos equipamentos e também porque, muitas vezes, o espaço da casa não oferece às condições necessárias para que o aluno se concentre no conteúdo e mantenha uma rotina mínima de aprendizado.
Para além dos abismos tecnológicos, também é necessário incluir nessa lista outros fatores que afetam professores e alunos, como problemas emocionais; dificuldade de adaptação ao novo modelo de ensino e aprendizagem; falta de motivação e de suporte familiar que auxilie o estudante e também os professores para se dedicarem às novas demandas.
Os dois meses de ensino à distância são o retrato do modo como o governo Zema tem encarado a educação: pouco investimento nas escolas e em material didático, desconhecimento (desconsideração) das diferentes realidades dos alunos e professores; salários atrasados; baixo investimento em formação e na melhora das condições de trabalho, ou seja, uma total desvalorização da educação e do trabalhador, de quem é exigido semanalmente o cumprimento de uma carga horária que é monitorada pelo governo. A comunidade escolar vive de incertezas ou talvez de uma única certeza: de que a educação continua não sendo uma prioridade em Minas.
Fabíola Souza, professora da UFOP e pesquisadora do Gris